Astrônomos publicaram um mapa gigantesco em infravermelho da Via Láctea, contendo mais de 1,5 bilhão de objetos

Esta colagem destaca uma pequena seleção de regiões da Via Láctea fotografadas como parte do mapa infravermelho mais detalhado já feito da nossa galáxia. Aqui vemos, da esquerda para a direita e de cima para baixo: NGC 3576, NGC 6357, Messier 17, NGC 6188, Messier 22 e NGC 3603. Todas elas são nuvens de gás e poeira onde estrelas estão se formando, exceto Messier 22, que é um grupo muito denso de estrelas velhas. As imagens foram capturadas com o Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (VISTA) do ESO e sua câmera infravermelha VIRCAM. O mapa gigantesco ao qual essas imagens pertencem contém 1,5 bilhão de objetos. Os dados foram coletados ao longo de 13 anos como parte do levantamento VISTA Variables in the Vía Láctea (VVV) e seu projeto complementar, o levantamento VVV eXtended (VVVX). Crédito: levantamento ESO/VVVX

doi.org/10.1051/0004-6361/202450584
Credibilidade: 888
#Gaia 

Usando o telescópio VISTA, do Observatório Europeu do Sul (ESO), a equipe monitorou as regiões centrais da nossa galáxia por mais de 13 anos. Esse projeto gerou 500 terabytes de dados, tornando-se o maior projeto de observação já realizado com um telescópio do ESO.

Um artigo detalhando as descobertas foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.

“Fizemos tantas descobertas que mudamos para sempre a visão que temos da nossa galáxia”, afirma Dante Minniti, astrofísico da Universidad Andrés Bello, no Chile, e líder do projeto.

Esse mapa impressionante é composto por 200.000 imagens capturadas pelo VISTA, um telescópio especializado em observações visuais e em infravermelho. Localizado no Observatório Paranal, no Chile, o objetivo principal do VISTA é mapear grandes áreas do céu. A equipe utilizou a câmera infravermelha VIRCAM, que consegue enxergar através da poeira e dos gases que permeiam a Via Láctea, revelando áreas ocultas da nossa galáxia.

Os dados cobrem uma área equivalente a 8.600 luas cheias no céu e contêm cerca de 10 vezes mais objetos do que o mapa anterior, lançado pela mesma equipe em 2012. O novo mapa inclui estrelas recém-nascidas, que geralmente estão envoltas em nuvens de poeira, e aglomerados globulares – densos grupos de milhões das estrelas mais antigas da Via Láctea. A observação no infravermelho permite que o VISTA detecte objetos muito frios, como anãs marrons (estrelas “fracassadas” que não realizam fusão nuclear sustentada) ou planetas solitários que não orbitam uma estrela.

As observações começaram em 2010 e terminaram na primeira metade de 2023, totalizando 420 noites de coleta de dados. Ao observar repetidamente cada parte do céu, a equipe conseguiu determinar não apenas a localização desses objetos, mas também acompanhar seus movimentos e variações de brilho.

Eles mapearam estrelas com luminosidade variável, que podem ser usadas como “régua cósmica” para medir distâncias. Isso resultou em uma visão 3D precisa das regiões internas da Via Láctea, anteriormente ocultas pela poeira. Os pesquisadores também rastrearam estrelas de alta velocidade, ejetadas das regiões centrais da galáxia após interações com o buraco negro supermassivo que existe lá.

O novo mapa reúne dados do projeto de pesquisa VISTA Variables in the Vía Láctea (VVV) e do projeto complementar VVV eXtended (VVVX).

“Foi um esforço monumental, possível graças a uma equipe incrível”, afirma Roberto Saito, astrofísico da Universidade Federal de Santa Catarina e principal autor do artigo.

As pesquisas VVV e VVVX já resultaram em mais de 300 artigos científicos. Embora as observações tenham sido concluídas, a análise dos dados coletados continuará por décadas. Enquanto isso, o Observatório Paranal do ESO está sendo preparado para o futuro: o telescópio VISTA será atualizado com o novo instrumento 4MOST, e o Very Large Telescope (VLT) do ESO receberá o instrumento MOONS. Juntos, esses equipamentos permitirão obter espectros de milhões de objetos mapeados, o que trará inúmeras novas descobertas.


Publicado em 27/09/2024 23h19

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