Um dinossauro com penas recém-descoberto exibia penugem e hastes estranhas em seus ombros

Ubirajara jubatus (ilustrado) pode ter usado suas flâmulas de ombro e juba de penas para danças e exibições chamativas.

O fóssil de um comedor de carne do tamanho de uma galinha do Brasil que tinha uma juba de filamentos fofos e um par de fitas rígidas em forma de fita emergindo de ambos os ombros é o primeiro dinossauro com penas descoberto no hemisfério sul.

Batizado de Ubirajara jubatus, o corajoso predador viveu 110 milhões de anos atrás e provavelmente usou suas penas incomuns no ombro e crina para fins de exibição para atrair parceiros e afastar rivais, relata uma equipe internacional de pesquisadores online em 13 de dezembro na Cretaceous Research.

O nome Ubirajara significa “senhor da lança” ‘e vem da língua indígena tupi local, enquanto jubatus vem do latim para guará ou crista.

Muitos dinossauros do supercontinente Gondwana, que cobriu grande parte da metade sul do planeta durante o período Cretáceo, foram considerados como tendo penas, mas é emocionante finalmente ter evidências diretas, diz o co-autor do estudo David Martill, paleontólogo da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra.

“Essas estruturas [dos ombros] são realmente elaboradas; eles fizeram esse animal parecer bem espetacular, assim como uma ave do paraíso parece espetacular [hoje]”, diz ele. “Quando os pássaros têm esse tipo de penas, eles fazem todos os tipos de danças chiques e exibições, então este dinossauro parece que foi um pequeno show-off.”

O dinossauro também é interessante, porque é um membro do grupo dos compsognatídeos, que se ramificou na árvore genealógica dos dinossauros carnívoros bem no início da história do grupo, diz Martill. Isso sugere que o uso de penas para fins de exibição complexos pode ter uma história muito antiga entre os dinossauros carnívoros.

Max Langer, paleontólogo da Universidade de São Paulo que não esteve envolvido na pesquisa, diz que era apenas uma questão de tempo até que um dinossauro com penas fosse descoberto na Formação Crato, no nordeste do Brasil, de onde veio o fóssil, ou arredores. rochas do Planalto do Araripe. Aqui, “a fossilização é primitiva”, com muitos espécimes registrando até detalhes como fibras musculares e vasos sanguíneos, diz ele.

Vários outros dinossauros sem penas foram encontrados na região. E um fóssil de ave com penas, descrito em 2015, mostrou que a preservação das penas nas rochas aqui era possível.

Langer acrescenta que é uma pena que um fóssil importante como este tenha ido parar na Alemanha, ao invés de permanecer no Brasil, e que cientistas brasileiros não tenham participado dessa pesquisa. “Os fósseis encontrados aqui fazem parte do patrimônio paleontológico brasileiro, então não é bom que esse material esteja fora do país”, argumenta.

O fóssil foi provavelmente encontrado por pedreiros locais que extraem lajes de pavimentação dos calcários contendo fósseis da Formação Crato, diz o co-autor do estudo Eberhard Frey, geocientista do Museu Estatal de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha.

No início da década de 1990, o fóssil chegou ao museu paleontológico da cidade do Crato, no estado do Ceará. Aqui, ele chamou a atenção de Frey e Martill, que buscaram permissão das autoridades locais para exportar o fóssil para a Alemanha em 1995, onde o estudaram nos anos seguintes e onde ele permanece até hoje.


Publicado em 16/12/2020 14h19

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