Pesquisadores determinam como e quando os pterossauros evoluíram de pequenos escaladores de árvores a gigantes terrestres

Pterossauros de cauda curta, como este Balaenognathus, foram adaptados para uma vida no solo. Esta criatura bizarra ostentava quase 500 dentes em forma de agulha em suas mandíbulas, e provavelmente os usava para filtrar alimentos minúsculos de águas rasas, semelhante aos hábitos alimentares dos flamingos modernos. Crédito: Rudolf Hima

doi.org/10.1016/j.cub.2024.09.014
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#Pterossauros 

Paleontólogos do Centro de Paleobiologia e Evolução da Biosfera, da Universidade de Leicester, descobriram como os pterossauros – os primeiros vertebrados voadores – desenvolveram adaptações evolutivas que lhes permitiram atingir tamanhos enormes. O estudo mostrou que a capacidade de andar de forma eficiente no solo foi fundamental para que esses animais alcançassem grandes dimensões, com alguns chegando a ter envergaduras de até 10 metros.

No estudo, publicado em 4 de outubro na revista *Current Biology*, a equipe de pesquisadores analisou as mãos e os pés de pterossauros de várias partes do mundo e de diferentes períodos de sua história evolutiva. Eles descobriram uma surpreendente diversidade de formas, semelhante à variação observada em aves modernas, sugerindo que esses animais não viviam apenas nos céus, mas também se adaptaram a diferentes estilos de vida terrestres – desde escaladores de árvores, nas espécies mais antigas, até animais que se movimentavam no chão em períodos posteriores.

Os primeiros pterossauros eram altamente especializados em escalar, com modificações extremas em suas mãos e pés, como explicou Robert Smyth, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade de Leicester. “Esses pterossauros primitivos tinham adaptações nas mãos e nos pés semelhantes às encontradas em lagartos escaladores e aves como os pica-paus, que facilitavam sua vida em ambientes arborícolas, explicou Smyth. Essas adaptações, no entanto, limitavam seu tamanho corporal, pois viver nas árvores impunha restrições físicas.

A grande virada evolutiva ocorreu no período Jurássico Médio, quando as mãos e os pés dos pterossauros passaram a se parecer mais com os de animais terrestres, o que possibilitou novas oportunidades ecológicas e novos modos de alimentação. Sem as limitações do estilo de vida nas árvores, alguns pterossauros cresceram enormemente, atingindo impressionantes envergaduras de até 10 metros.

Pterossauros de cauda longa, como Scaphognathus, tinham garras grandes e curvas nas mãos e nos pés, especialmente adaptadas para escalar. Equipados com dentes afiados, eles provavelmente caçavam insetos e outros pequenos animais. Crédito: Rudolf Hima

De acordo com o coautor do estudo, Dr. David Unwin, a separação da membrana de voo que conectava as pernas traseiras dos primeiros pterossauros permitiu que esses animais movimentassem cada perna de forma independente. Essa inovação, aliada a outras mudanças nas mãos e nos pés, melhorou a mobilidade no solo e permitiu que os pterossauros evoluíssem para tamanhos gigantescos.

Os detalhes anatômicos das mãos e pés são reveladores. Nos primeiros pterossauros, os ossos da base dos dedos e dos pés eram curtos, enquanto os mais distantes do corpo eram alongados e terminavam em grandes garras curvadas, adaptadas para escalada. Já nos pterossauros mais avançados, o padrão era o oposto: os ossos da base dos dedos e pés eram mais longos, e as garras mais achatadas e menos curvadas, sugerindo uma melhor adaptação para caminhar no solo.

Esta árvore evolutiva ilustra a notável transformação das mãos dos pterossauros à medida que se adaptavam de um estilo de vida de escalada para um adequado para o movimento terrestre. Os primeiros pterossauros de cauda longa, que dependiam da escalada, eram limitados a tamanhos corporais menores. Em contraste, mais tarde, as espécies de cauda curta que se adaptaram a andar em terra eram livres para crescer mais, permitindo que algumas atingissem tamanhos gigantes. Crédito: Rudolf Hima

Essas mudanças destacam a importância de estudar todos os aspectos da locomoção dos pterossauros, e não apenas o voo, para entender completamente sua evolução. Como explicou Smyth, “saber que os pterossauros podiam voar é apenas uma parte de sua história. Ao investigar como eles viviam em árvores ou no chão, podemos compreender melhor os papéis que desempenhavam nos ecossistemas antigos.”

Ao chegar ao solo, os pterossauros encontraram um ambiente já habitado por dinossauros e outros répteis. No entanto, esses animais evitaram a competição direta ao explorar nichos ecológicos que exigiam habilidades tanto para voar quanto para caminhar. Isso levou ao desenvolvimento de estratégias alimentares peculiares, como a evolução de centenas de dentes finos em forma de agulha para filtrar alimentos da água, uma característica semelhante ao modo de alimentação dos flamingos modernos, mas que surgiu pelo menos 120 milhões de anos antes deles.


Publicado em 09/10/2024 23h41

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