Vírus humanos mais antigos conhecidos encontrados em ossos de neandertais de 50 mil anos

Um herpesvírus moderno fotografado usando um microscópio eletrônico. (Imagens Callista/Imagens Getty)

doi.org/10.1101/2023.03.16.532919
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#Neandertais 

Como os Neandertais foram extintos enquanto os humanos sobreviveram é uma das maiores questões na história da nossa espécie. Os pesquisadores há muito se perguntam se nossos parentes extintos mais próximos poderiam ter sucumbido às infecções virais que assolam os humanos modernos hoje.

Essa teoria pouco evidenciada, proposta pela primeira vez em 2010, tornou-se um pouco mais plausível com a descoberta de DNA antigo de três vírus encontrados em ossos de Neandertais com 50 mil anos de idade, desenterrados na caverna Chagyrskaya, na Rússia.

Anteriormente, os investigadores sugeriram que as doenças infecciosas poderiam ter contribuído para o desaparecimento dos Neandertais com base em sinais nos genomas virais e bacterianos de quando esses agentes patogénicos infectaram os seres humanos pela primeira vez – há tempo suficiente para que os seres humanos pudessem ter transportado agentes patogénicos de África e transmitido-os aos Neandertais na Europa.

Caso contrário, os investigadores usaram modelos matemáticos para simular a propagação de doenças entre o Homo sapiens e os Neandertais (H.neanderthalensis), e as suas diferentes imunidades.

Mas com o DNA antigo tão difícil de amostrar e sequenciar, fragmentado por todos os milhares de anos que resistiu, faltam evidências mais diretas de que os neandertais foram infectados por patógenos que causam doenças comuns hoje, mas que poderiam ter matado nossos parentes.

“Para apoiar [esta] hipótese provocativa e interessante, seria necessário provar que pelo menos os genomas desses vírus podem ser encontrados em restos de Neandertais”, disse o biólogo molecular e autor sênior do novo estudo, Marcelo Briones, ao New Scientist.

“Isso é o que fizemos.” Briones, juntamente com a geneticista evolucionista Renata Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo, no Brasil, e colegas, colheram amostras de DNA dos esqueletos de dois homens de Neandertal.

Lá, no genoma do Neandertal, eles encontraram fragmentos de DNA que lembravam três vírus modernos: o adenovírus, que hoje causa resfriados comuns; herpesvírus, o culpado do herpes labial; e papilomavírus, transmitido durante o sexo e causando verrugas genitais.

Nos humanos modernos, estes vírus podem causar infecções persistentes ou mesmo duradouras, onde o vírus escapa ao sistema imunológico e permanece inativo durante anos ou décadas.

Portanto, é possível que eles também tenham se apegado aos neandertais, embora ainda não se saiba como essas infecções se manifestaram, como doenças leves ou algo mais grave.

O estudo mostra que é viável encontrar e extrair restos de DNA viral em restos de hominídeos antigos.

O DNA viral mais antigo encontrado antes disso foi um herpesvírus de 31 mil anos detectado em dentes de H.sapiens escavados na Sibéria.

Mas a equipe sublinha que as suas descobertas são preliminares, dizendo que os fragmentos indicam apenas a “possível presença? de restos de DNA viral em restos de Neandertais.

Seu estudo também não foi revisado por pares.

Não esqueçamos também que uma série de outras teorias foram apresentadas sobre o que exterminou os Neandertais.

Os Neandertais podem ter lutado para se adaptar a alguma mudança ambiental repentina, ou os humanos poderiam ter superado os Neandertais por alimentos e outros recursos.

No entanto, essas teorias começaram a cair em desuso há mais de uma década, quando os investigadores começaram a perceber que os Neandertais eram caçadores habilidosos, manejadores de fogo e também seres sociais.

Outras sugestões populares entre os paleoantropólogos incluem o fato de as já pequenas populações de Neandertais simplesmente desaparecerem, ou que os humanos viviam em grupos maiores, dando aos nossos antepassados uma maior diversidade de genes e ideias com que trabalhar.

“É provável que uma combinação destes fatores, juntamente com outros fatores desconhecidos, tenham contribuído para o eventual desaparecimento dos Neandertais”, reconhecem Ferreira e colegas.


Publicado em 29/05/2024 10h32

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