Restos de menino com olhos azuis de 17 Mil anos são encontrados na Itália

O esqueleto do bebê quando foi descoberto na caverna Grotta delle Mura em 1998. (Crédito da imagem: Foto de Mauro Calattini; Owen Alexander Higgins et al. Nature Communications, 2024; CC BY-NC-ND 4.0)

doi.org/10.1038/s41467-024-51150-x
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#Esqueleto 

Os restos bem preservados de um bebê que morreu há 17 mil anos, em uma região que hoje é a Itália, mostram que ele tinha olhos azuis, pele escura e cabelo cacheado.

A História de um Bebê da Era do Gelo

Cientistas conseguiram desvendar parte da história de vida desse bebê que viveu no sul da Itália, cerca de 17 mil anos atrás, e descobriram que ele provavelmente morreu de uma doença cardíaca congênita (de nascença).

Os restos do bebê também mostraram sinais de desenvolvimento fraco e parentesco próximo entre seus pais. Uma análise do DNA revelou que o bebê era um menino e provavelmente tinha olhos azuis, pele escura e cabelos castanhos escuros a quase pretos e cacheados, de acordo com um novo estudo publicado em 20 de setembro na revista *Nature Communications*.

Como os Restos Foram Encontrados:

Em 1998, o arqueólogo Mauro Calattini, da Universidade de Siena, encontrou a sepultura do menino enquanto escavava a caverna Grotta delle Mura, na cidade de Monopoli, no sudeste da região da Puglia, o “calcanhar” da Itália. O túmulo estava coberto por duas lajes de pedra e continha restos esqueléticos bem preservados e intactos do bebê. Não havia objetos no túmulo, e essa foi a única sepultura encontrada na caverna.

Desafios da Vida no Período da Última Idade do Gelo:

É raro encontrar restos bem preservados de um bebê que viveu pouco depois do Último Máximo Glacial, cerca de 20 mil anos atrás, quando grandes camadas de gelo cobriam a Terra. Naquela época, o sul da Itália era um pouco mais quente do que outras partes da Europa, o que pode ter servido como um refúgio para as pessoas que enterraram o bebê.

Análise dos Ossos e Dentes do Menino:

A análise do esqueleto revelou que o menino morreu com aproximadamente 1 ano e 4 meses de idade. Os dentes do bebê mostraram até nove linhas marcantes, que indicam dificuldades fisiológicas que ele enfrentou, sugerindo que ele teve uma vida difícil, mesmo antes de nascer.

Possíveis Problemas Durante a Gravidez:

Os cientistas acreditam que algumas dessas dificuldades, especialmente as que aconteceram antes do nascimento, podem ter vindo da mãe do bebê. Para entender mais, a equipe estudou os isótopos (variações de elementos químicos) encontrados no esmalte dos dentes do menino. Os isótopos da água que a mãe bebia e dos alimentos que ela consumia se acumulavam nos dentes do bebê, dando pistas sobre onde eles viviam. A análise mostrou que a mãe permaneceu na região local durante os últimos meses da gravidez, o que pode ter sido por causa de problemas de saúde dela, que também podem ter afetado o bebê.

Uma Doença Cardíaca Genética:

A análise do DNA também mostrou que o bebê tinha mutações em dois genes – TNNT2 e MYBPC3 – envolvidos na produção de proteínas do músculo do coração. Essas mutações frequentemente levam a uma condição genética chamada cardiomiopatia hipertrófica, em que as paredes do ventrículo esquerdo do coração ficam mais espessas e rígidas com o tempo, dificultando a circulação de sangue. Essa condição pode ter contribuído para a morte precoce do menino.

Ancestrais e Parentesco Próximo:

O menino era geneticamente relacionado a um grupo de caçadores-coletores da Era do Gelo que descendia de uma população ancestral chamada “cluster de Villabruna”. Isso significa que já havia grupos como esse na Península Itálica há 17 mil anos, antes do fim da Era do Gelo. O menino provavelmente fazia parte de um grupo pequeno de ancestrais que eventualmente se espalhou pela Sicília e pelo sul da Itália. Como o grupo era pequeno, casamentos entre parentes próximos não eram incomuns, e os cientistas descobriram que os pais do menino eram provavelmente primos de primeiro grau.

Por que Essas Descobertas São Importantes:

Essas descobertas são valiosas porque nos ajudam a entender como os humanos viveram e sobreviveram em épocas muito antigas. Elas também dão pistas sobre como doenças genéticas podem ter afetado nossos ancestrais e como populações pequenas, isoladas em certas regiões, tinham práticas diferentes das de outras partes do mundo.


Publicado em 27/10/2024 22h40


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