doi.org/10.1371/journal.pone.0309908
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#Pinturas rupestres
Pinturas rupestres dos San na África do Sul provavelmente mostram dicinodontes extintos, evidenciando o envolvimento precoce dos povos locais na paleontologia antes da descoberta ocidental.
Artistas San podem ter pintado um animal antigo que viveu no sul da África há mais de 250 milhões de anos, de acordo com uma nova pesquisa publicada na revista Plos One.
A pintura, localizada em uma caverna na fazenda La Belle France, na província do Estado Livre, na África do Sul, pode ser a peça de arte mais antiga do mundo que representa um réptil parecido com mamífero extinto, chamado dicinodonte, criada muito antes da descoberta científica oficial do animal, que só aconteceu pelo menos uma década depois.
Reinterpretando Arte Rupestre Mal Identificada:
O professor Julien Benoit, um paleontólogo da Universidade de Witwatersrand (Wits University), reinterpretou essa misteriosa pintura rupestre, que antes havia sido identificada erroneamente como um animal parecido com uma morsa ou até mesmo um tigre-dente-de-sabre.
“Embora a imagem se pareça estranhamente com uma morsa, não existem animais assim na África”, diz Benoit.
Ligando a Arte às Descobertas Paleontológicas
Os dicinodontes são antigos parentes dos mamíferos que viveram na Terra entre 265 e 200 milhões de anos atrás. A região de Karoo, na África do Sul, onde a pintura foi encontrada, é conhecida por ter muitos fósseis desses animais.
“Os San viviam e caçavam em meio a pegadas fósseis, ossos, crânios e dentes de répteis extintos há muito tempo”, explica Benoit. “Essa pintura é uma prova convincente de que eles não só descobriram esses fósseis, mas também tentaram reconstruir o animal vivo em suas artes.”
Evidências de Conhecimentos Paleontológicos Antigos:
Benoit encontrou vários ossos fósseis perto da caverna, apoiando a ideia de que os artistas San basearam suas pinturas em descobertas fósseis reais. Curiosamente, a postura do corpo do animal pintado imita a “pose de morte? que é comum em esqueletos fossilizados, o que reforça a conexão com descobertas paleontológicas.
Acredita-se que a pintura tenha sido feita antes de 1835, enquanto a primeira descrição científica dos dicinodontes aconteceu em 1845, pelo paleontólogo britânico Sir Richard Owen. Isso mostra que os San foram pioneiros na paleontologia, reconhecendo e representando espécies extintas muito antes da comunidade científica formal.
“Essa descoberta é extraordinária. Ela sugere que o povo San estava se envolvendo com a paleontologia muito antes dos cientistas ocidentais saberem que esses seres existiram”, afirma Benoit.
Significado Cultural e Mitológico:
Um mito dos San conta que “enormes bestas”, agora completamente extintas, costumavam vagar pelo sul da África há muito tempo. Essa história pode se referir aos fósseis de dicinodontes da região de Karoo que os San descobriram e tentaram entender. O estudo da pintura rupestre da caverna La Belle France e do animal misterioso nela representado apoia essa ideia.
“O dicinodonte pode ter sido representado como um “animal-da-chuva”, uma criatura mítica na cosmologia dos San. Eles podem ter tido um significado especial nas pinturas dos San.”
Essa pesquisa não só reescreve a história da paleontologia, mas também destaca o profundo conhecimento científico e as habilidades de observação das comunidades indígenas. Ela abre novas possibilidades para interpretar a arte rupestre e compreender a relação complexa entre os povos antigos e o mundo pré-histórico ao seu redor.
Publicado em 22/10/2024 23h07
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