Danos iniciais do Alzheimer acontecem em silêncio, muito antes de surgirem sintomas

Imagem via Pixabay

doi.org/10.1038/s41593-024-01774-5
Credibilidade: 989
#Alzheimer 

Usando tecnologias avançadas de mapeamento cerebral, os cientistas sugerem que a primeira fase acontece de forma lenta e silenciosa, afetando apenas alguns tipos de células vulneráveis, muito antes de aparecerem problemas de memória.

Uma pesquisa financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) revelou que o Alzheimer pode afetar o cérebro em duas fases diferentes.

Já a segunda fase ocorre quando os sintomas se tornam visíveis, com danos mais intensos no cérebro, incluindo o acúmulo rápido de placas e emaranhados, sinais típicos do Alzheimer.

Richard J. Hodes, diretor do Instituto Nacional de Envelhecimento do NIH, explicou: “Uma das dificuldades para diagnosticar e tratar o Alzheimer é que muitos danos cerebrais acontecem antes mesmo dos sintomas aparecerem. Ser capaz de detectar essas mudanças precoces nos ajuda a entender melhor o que está acontecendo no cérebro nos estágios iniciais da doença, o que pode guiar a criação de novos tratamentos.”

Novas pesquisas financiadas pelo NIH indicam que a doença de Alzheimer danifica o cérebro em duas fases distintas.A primeira fase é gradual, afetando apenas tipos específicos de células antes do surgimento dos sintomas, enquanto a segunda fase, mais tardia, é marcada por danos generalizados, perda de memória e placas e retângulos característicos do Alzheimer.

Análise das Células e Descobertas Principais

Os cientistas estudaram o cérebro de 84 pessoas, e os resultados foram publicados na revista *Nature Neuroscience*. Eles descobriram que, na fase inicial, uma célula chamada neurônio inibitório pode ser danificada, o que pode causar problemas nos circuitos neurais, contribuindo para o surgimento da doença. A pesquisa também confirmou outros danos conhecidos e descobriu novas mudanças que podem ocorrer durante o Alzheimer.

Os pesquisadores usaram ferramentas genéticas avançadas para analisar as células de uma parte do cérebro chamada giro temporal médio, que controla a linguagem, a memória e a visão. Eles compararam dados de cérebros saudáveis com os de pessoas que tinham Alzheimer, criando um mapa genético e celular das mudanças ao longo da doença.

Neurônios vulneráveis durante os estágios precoces da doença de Alzheimer. Crédito: Allen Institute

Um Novo Modelo para o Alzheimer – Duas Fases

Os estudos tradicionais sugerem que o Alzheimer acontece em várias etapas, com aumento da morte de células, inflamação e acúmulo de proteínas em forma de placas e emaranhados. No entanto, esta nova pesquisa sugere que o Alzheimer ocorre em duas fases principais. A primeira fase é lenta e silenciosa, com mudanças graduais, como o acúmulo de placas, ativação do sistema imunológico do cérebro, danos ao isolamento das células nervosas e a morte de neurônios inibitórios chamados de somatostatina (SST).

Os cientistas ficaram surpresos com essa descoberta. Antes, achava-se que o Alzheimer danificava principalmente os neurônios excitatórios, que enviam sinais para ativar outras células. Mas a pesquisa mostrou que os neurônios inibitórios, que acalmam outros neurônios, também são danificados. Os autores do estudo acreditam que a perda desses neurônios inibitórios pode causar mudanças no cérebro que contribuem para a doença.

Neurônios vulneráveis durante os estágios posteriores da doença de Alzheimer. Crédito: Allen Institute

Novas Descobertas em Pesquisa Genética do Alzheimer

Um estudo separado feito por pesquisadores do MIT, também financiado pelo NIH, encontrou um gene chamado REELIN que pode tornar alguns neurônios mais vulneráveis ao Alzheimer. Descobriu-se ainda que células em forma de estrela chamadas astrócitos podem ajudar o cérebro a resistir aos danos causados pela doença.

Os cientistas usaram cérebros do projeto Seattle Alzheimer”s Disease Brain Cell Atlas (SEA-AD), que busca mapear os danos cerebrais causados pelo Alzheimer. Esse projeto é liderado pelos doutores Mariano I. Gabitto e Kyle J. Travaglini, do Instituto Allen, em Seattle. Com o uso de ferramentas desenvolvidas pelo BRAIN Initiative® do NIH, os cientistas analisaram mais de 3,4 milhões de células cerebrais de pessoas que faleceram em diferentes estágios da doença.

John Ngai, diretor da BRAIN Initiative®, comentou: “Essas novas tecnologias do NIH estão transformando nossa compreensão sobre doenças como o Alzheimer. Com essas ferramentas, os cientistas conseguiram detectar as mudanças celulares mais precoces no cérebro e entender melhor o que acontece ao longo da doença. Esse conhecimento pode ajudar na criação de diagnósticos e tratamentos mais específicos para o Alzheimer e outras formas de demência.”


Publicado em 15/11/2024 06h44


English version


Artigo original:

Estudo original: