O novo Plano Nacional de Educação traz ataques ao ensino domiciliar, às escolas militares, ao agronegócio e ao ensino privado e confessional

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Estimativas mostram que os pais de mais de 70 mil crianças no Brasil optaram por educar seus filhos em casa – um direito que é protegido e consagrado no direito internacional. Embora a decisão de estudar ou não a educação domiciliar deva ser deixada aos pais da criança, no Brasil esse não é mais o caso.

Os direitos dos pais estão sob ataque no Brasil. Até agora, vimos pais como Regiane Cichelero serem processados, multados e ameaçados com a retirada da custódia por simplesmente optarem por educar seus filhos em casa. Como se a situação já não fosse suficientemente sombria, existem agora planos educativos que erradicariam completamente a possibilidade de os pais educarem os seus filhos em casa.

O Plano Nacional de Educação (PNE) é um documento elaborado na Conferência Nacional de Educação, com base nas contribuições realizadas nas conferências de educação realizadas nos estados e municípios, que estabelece diretrizes e metas para a educação nacional ao longo dos 10 anos seguintes à sua aprovação. O PNE tem força de lei a partir do momento em que é aprovado pelo Congresso, embora o Congresso tenha competência para modificar o que foi aprovado nas conferências.

Em tese, a importância do Plano seria estabelecer metas para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. Contudo, o que acontece é que as discussões nas conferências são manipuladas para incluir palavreado ideológico e agendas corporativistas. A isto acrescenta-se a falta de responsabilização dos intervenientes educativos por qualquer incumprimento das metas. Ao final, o documento não tem importância significativa na construção de políticas educacionais que tenham como foco a melhoria e a liberdade de ensino, apesar de ser citado como diretriz para a educação e ferramenta para barrar políticas educacionais em estados e municípios que pretendem adotar qualquer proposta contrária às determinações do Plano.

Entre os exemplos preocupantes de agendas trazidas para o documento base do PNE estão o ataque ao ensino domiciliar, às escolas militares, ao agronegócio e ao ensino privado e confessional. Além desses pontos, que vão contra os interesses de uma parcela significativa da população e ferem o princípio constitucional da pluralidade de conceitos pedagógicos, o documento avança diretrizes identitárias que não estão vinculadas a nenhum progresso na qualidade da educação intelectual das crianças. O termo “LGBTQIAPN+” aparece com mais frequência do que “Língua Portuguesa” e “Matemática” no texto, o que diz muito sobre as prioridades do atual governo para a educação.

A consequência disso para a educação brasileira, que já é de péssima qualidade, é a criação de jovens militantes, dentro de uma cultura de revolta e ressentimento, em vez de preparar jovens para serem minimamente funcionais para o mercado de trabalho, com pleno domínio de sua linguagem e matemática. Além disso, decorrida uma década de vigência do novo PNE, é enorme o risco de perpetuação de práticas que já ocorrem, como a ideologização do ensino e a destinação de recursos para custos com pessoal, ignorando investimentos em infraestrutura e inovação educacional.

Para o ensino domiciliar, a situação será ainda mais grave se o documento for aprovado sem alterações. O texto é muito claro ao dizer que essa modalidade de ensino deveria ser extirpada da sociedade brasileira. O cenário atual para as famílias que optam pela educação domiciliar no Brasil é atualmente nebuloso e as famílias vivem em um limbo jurídico. Embora reconhecidos em tratados internacionais dos quais o país é signatário, estes são absolutamente ignorados pelo judiciário brasileiro e rejeitados pelos burocratas que regem a educação no país. As famílias têm sofrido perseguições e ameaças das autoridades públicas e um plano nacional que condene a prática do ensino doméstico poderia intensificar essas ações.

Se o documento for aprovado, haverá ainda mais perseguições e menos espaço para discussão do tema, o que prejudicaria as dezenas de milhares de famílias que atualmente educam seus filhos desta forma. É por isso que a sociedade se mobiliza para revogar este documento, que não é fruto da vontade da maioria da população brasileira, mas de uma elite burocrática e sindical que quer que a educação atenda apenas aos seus próprios interesses.

Além disso, todo o processo de elaboração da proposta do Plano é falho e deveria ser anulado e refeito na sua totalidade. O documento base apresentado para discussão não cumpria os requisitos constitucionais, e as discussões decorreram de forma precipitada, com o claro objetivo de inviabilizar o debate, que, no final, se resumiu a uma reunião de pessoas que têm os mesmos cosmovisão e querem impô-la ao resto da sociedade. Por todas essas razões, movimentos pró-família estão se organizando em todo o Brasil para esclarecer deputados e senadores sobre a urgência e a importância de rejeitar a proposta do Plano Nacional de Educação em sua totalidade.

Espero que você se junte a mim orando e encontrando maneiras de apoiar os direitos dos pais no Brasil. O governo não deve impor planos educativos com motivação ideológica, mas sim respeitar os direitos dos pais na educação dos seus filhos. Todos os pais têm o direito e a obrigação dados por Deus de fazer escolhas que proporcionem os melhores resultados para os seus filhos – e nenhum pai deve ser punido ou processado por escolher o que é melhor para o seu filho.

Sobre os autores

Julio Pohl atua como consultor jurídico para América Latina e Caribe da ADF International. Além de monitorar e atuar na região latino-americana e na Organização dos Estados Americanos, ele também auxilia advogados aliados em litígios para proteger o direito à vida, à liberdade religiosa e à família.

Alexandre Magno Fernandes Moreira. Pai de duas meninas e um menino. Advogado, professor e mentor em educação domiciliar, direitos dos pais e direito educacional. Diretora geral da Rede Nacional Brasileira de Profissionais Pró-Família. Ex-Secretário Nacional de Direitos Humanos no Brasil. Atualmente é pesquisador na KU Leuven (Bélgica).


Publicado em 13/03/2024 16h02

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