doi.org/10.1038/s41467-024-52126-7
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#Crosta
Sob uma depressão chamada Bacia de Konya, a crosta da Terra está lentamente se afundando nas camadas internas do planeta, um processo que está moldando gradualmente a geologia da superfície, tanto da bacia quanto do planalto ao redor.
Esse fenômeno é conhecido como “pingamento litosférico”, e só foi descoberto recentemente na Terra. Os geólogos ainda estão tentando entender como ele ocorre de diferentes maneiras.
“Analisando dados de satélite, observamos uma característica circular na Bacia de Konya, onde a crosta está afundando, ou seja, a bacia está se aprofundando,” explica a geofísica Julia Andersen, da Universidade de Toronto.
Isso levou a equipe a investigar outros dados geofísicos abaixo da superfície, onde encontraram uma anomalia sísmica no manto superior e uma crosta mais espessa, sugerindo a presença de material denso – um sinal claro de que há um pingamento litosférico acontecendo ali.
Como Funciona o Pingamento Litosférico
Já entendemos bem como esse processo ocorre. Quando a parte inferior da crosta rochosa da Terra aquece até uma certa temperatura, ela começa a ficar mais “mole”. Em seguida, ela lentamente começa a se deslocar para baixo, parecido com o movimento de mel ou xarope escorrendo – mas muito mais devagar e em uma escala muito maior.
À medida que esse material denso desce, ele puxa a crosta terrestre junto, formando uma depressão ou bacia. Quando o “pingo” se desprende e cai no manto da Terra, a superfície volta a se elevar, criando uma protuberância, com efeitos espalhados ao redor.
Esse processo foi identificado recentemente, e já conseguimos modelar sua evolução. Graças a isso, Andersen e seus colegas descobriram que esse fenômeno já aconteceu na Bacia de Arizaro, nos Andes Centrais.
Agora, após análises detalhadas da geologia da superfície e experimentos de laboratório, a equipe identificou outro “pingamento” na região do Planalto da Anatólia Central, sendo que o principal sinal disso foi a Bacia de Konya.
O Impacto no Planalto da Anatólia
O Planalto da Anatólia Central tem se elevado ao longo do tempo. Pesquisas anteriores indicam que ele aumentou cerca de 1 quilômetro de altitude nos últimos 10 milhões de anos, graças ao desprendimento de um “pingo” da crosta.
Por outro lado, a Bacia de Konya está afundando a uma taxa de cerca de 20 milímetros por ano. Isso pode parecer pouco, mas é algo estranho em uma região que, em geral, está se elevando. Essa discrepância chamou a atenção dos pesquisadores.
Os estudos sugerem que o planalto está passando pela fase de “ressalto” do processo de pingamento litosférico, depois que a parte derretida da crosta caiu no manto. A Bacia de Konya, por sua vez, está formando um novo “pingo”.
Comprovando a Teoria no Laboratório
Para validar essa ideia, os pesquisadores fizeram um experimento em laboratório. Eles encheram um tanque de vidro com uma substância viscosa (similar ao manto inferior da Terra) e simularam a crosta com uma mistura de esferas e areia de sílica. Depois, inseriram uma “semente” densa para iniciar o pingamento e observaram o resultado.
Em 10 horas, o primeiro “pingo” começou a descer. Após 50 horas, um segundo pingo também começou a se formar. As deformações que eles observaram eram consistentes com o que está acontecendo na Bacia de Konya: não houve movimentações horizontais, apenas verticais.
“O que notamos foi que, com o tempo, esse segundo pingo puxou a crosta para baixo e começou formando uma bacia, mesmo sem movimentos horizontais,? diz Andersen.
Conclusão
Esses resultados mostram que o pingamento litosférico é um processo em várias etapas. Eles explicam a estranha combinação de elevação e afundamento observada no Planalto da Anatólia Central, e sugerem que um “pingo” pode desencadear outros eventos geológicos no interior do planeta.
Publicado em 29/09/2024 21h15
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