doi.org/10.1038/s41561-024-01538-7
Credibilidade: 989
#Manto
Nova pesquisa sugere que a lava que entra em erupção a partir de pontos quentes ao redor do mundo pode vir de uma mesma origem ancestral de magma, localizada na camada intermediária da Terra.
O estudo indica que o manto profundo, onde o magma se forma, é mais uniforme do que os cientistas acreditavam. Em vez de ser uma mistura complexa de diferentes composições de rochas, o manto pode ser mais parecido com um “smoothie” bem misturado, onde os materiais são bastante homogêneos.
“Isso nos diz que o manto provavelmente é muito mais simples do que pensávamos”, disse Matthijs Smit, cientista da Terra na Universidade da Colúmbia Britânica.
As estruturas observadas no manto profundo podem não ser sinais de diferentes tipos de rochas, mas sim diferenças de temperatura no mesmo tipo de rocha, explicou Smit.
O estudo analisou lavas de pontos quentes, que se originam de plumas que sobem do manto profundo da Terra e entram em erupção em vulcões na superfície. Lugares como Samoa, Havaí e Islândia são exemplos de pontos quentes. As lavas desses locais apresentam variações nos elementos químicos, o que levou os cientistas a acreditar que o manto possui vários “reservatórios” distintos de rochas que não se misturam ou se misturam lentamente. Porém, modelos de computador em larga escala indicam que essa camada da Terra provavelmente se mistura de forma eficiente. Se for o caso, é possível que o magma tenha uma composição inicial semelhante no manto inferior, diferenciando-se à medida que sobe pelo manto superior.
“Temos cem sopas”, disse Smit à Live Science. “Será que as fazemos a partir de cem cubos de caldo diferentes ou, na verdade, usamos o mesmo caldo para fazer todas essas sopas””
Embora não seja possível observar diretamente o manto inferior, as lavas dos pontos quentes possuem assinaturas químicas que dão pistas sobre sua origem. Smit e sua equipe analisaram a concentração de três elementos na lava: níquel, nióbio e cromo. Esses elementos se comportam de forma diferente à medida que o magma sobe e se modifica em sua jornada até a superfície. O níquel, por exemplo, tende sendo incorporado em cristais, o que faz com que sua concentração no magma líquido diminua ao longo do tempo. O cromo faz o mesmo em uma escala de tempo diferente, enquanto o nióbio permanece no líquido. Observando as proporções desses elementos, os pesquisadores conseguiram identificar quais lavas haviam sofrido mais mudanças em relação à sua origem e quais estavam mais próximas do magma ancestral do manto.
Os pesquisadores perceberam que, em lavas de pontos quentes ao redor do mundo, havia semelhanças nos padrões desses elementos e nas composições das lavas que haviam mudado menos. Isso indica que as lavas não são diferentes por virem de “estoques” distintos, mas sim por se modificarem ao subir através das diferentes rochas no manto superior e na crosta.
“Toda lava de ponto quente aponta para a mesma composição inicial”, afirmou Smit.
Ainda há divergências entre os cientistas sobre a composição do manto profundo. Existem estruturas estranhas perto da fronteira entre o núcleo e o manto, chamadas de grandes províncias de baixa velocidade de cisalhamento (LLVPs), onde ondas sísmicas de terremotos se movem de forma incomumente lenta. Alguns cientistas sugerem que essas estruturas podem ser restos de rochas espaciais antigas que atingiram a Terra pouco após sua formação ou material da crosta antiga do planeta, empurrado para as profundezas por placas tectônicas subduzidas.
Essas LLVPs estão ligadas às plumas do manto que eventualmente dão origem às lavas dos pontos quentes, e o novo estudo pode indicar que todas essas explicações são complicadas demais. Em vez disso, as estranhas estruturas podem ter a mesma composição que o restante do manto, e a única diferença seria a temperatura dessas áreas.
“O que o estudo mostra é que os ingredientes tornam as sopas diferentes, não o caldo. Isso representa uma mudança fundamental na forma como enxergamos o manto”, disse Smit. Os ingredientes – todas as rochas pelas quais a lava passa enquanto sobe – ainda são importantes, pois ajudam a explicar muito sobre como a crosta e o manto interagem. Mas agora não há necessidade de explicações complexas sobre como partes do manto permaneceram inalteradas por bilhões de anos.
“Finalmente, estamos livres da ideia de que existem bolsões não misturados dentro do manto que ficaram lá desde a formação da Terra”, concluiu Smit.
Publicado em 15/10/2024 19h04
Artigo original:
Estudo original: