A escolha de um criacionista do Brasil para liderar sua agência de ensino superior choca cientistas [evolucionistas]


SÃO PAULO – A nomeação de um defensor do criacionismo para liderar a agência que supervisiona os programas de pós-graduação no Brasil preocupa os cientistas aqui – mais uma vez – com a invasão da religião nas políticas de ciência e educação.

No sábado, o governo do presidente Jair Bolsonaro nomeou Benedito Guimarães Aguiar Neto para chefiar a agência, conhecida como CAPES. Aguiar Neto, um engenheiro elétrico em treinamento, atuou anteriormente como reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (MPU), uma escola religiosa particular aqui. Defende o ensino e o estudo do design inteligente (DI), uma conseqüência do criacionismo bíblico que argumenta que a vida é complexa demais para ter evoluído pela evolução darwiniana e, portanto, exigia um designer inteligente [postarei algo sobre essa teoria logo].

Pesquisadores estão decretando a mudança. “É completamente ilógico colocar alguém que tenha promovido ações contrárias ao consenso científico [na opinião deles] em posição de gerenciar programas que são essencialmente de treinamento científico”, disse o biólogo evolucionista Antonio Carlos Marques, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

A nomeação cria “insegurança” sobre como a CAPES moldará os programas educacionais, diz Carlos Joly, pesquisador de biodiversidade da Universidade de Campinas.

A CAPES é uma agência federal importante no Ministério da Educação do Brasil. É responsável por regular, supervisionar e avaliar todos os programas de pós-graduação nas universidades brasileiras e financia milhares de bolsas de estudos para mestrandos e doutorandos. Também emite apelos de financiamento para pesquisa e fornece treinamento para professores no ensino fundamental e médio.

Aguiar Neto foi recentemente citado em um comunicado de imprensa do MPU dizendo que o DI deveria ser introduzido nos currículos da educação básica do Brasil como “um contraponto à teoria da evolução” e para que o criacionismo pudesse ser apoiado por “argumentos científicos”. Ele fez os comentários antes do segundo Congresso de Design Inteligente, realizado em Mackenzie em outubro de 2019. O evento foi organizado pelo Discovery Mackenzie, um centro de pesquisa criado pela MPU em 2017 para espelhar o Discovery Institute em Seattle, que também promove a identificação.

Aguiar Neto é reitor da Mackenzie desde 2011. Na CAPES, ele substitui Anderson Correia, que agora é reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, uma escola de elite de engenharia ligada à força aérea brasileira.

Esta é a segunda vez em Bolsonaro que as visões de um candidato sobre o criacionismo se tornam um problema [para eles]. Em janeiro de 2019, Damares Alves, recém-nomeada ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos de Bolsonaro, recebeu críticas por dizer, em um vídeo de 2013, que as igrejas evangélicas do Brasil haviam perdido influência na sociedade, permitindo que os cientistas “controlassem” o ensino. da evolução nas escolas. Os cristãos evangélicos do Brasil estão entre os mais fortes apoiadores de Bolsonaro.


Publicado em 31/01/2020

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