doi.org/10.3389/fmars.2024.1428621
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#Saara
A poeira vinda do deserto do Saara desempenha um papel essencial na base da cadeia alimentar marinha, fornecendo um nutriente crítico. Sem o ferro transportado por essas nuvens minerais, o fitoplâncton oceânico teria dificuldades para florescer.
De acordo com um novo estudo conduzido pela Universidade da Califórnia, Riverside, quanto mais tempo essa poeira permanece suspensa na atmosfera e mais longe ela viaja, mais seu ferro é convertido em uma forma facilmente acessível pela biosfera abaixo.
“O ferro transportado parece estimular processos biológicos de maneira semelhante à fertilização com ferro, impactando a vida nos oceanos e nos continentes”, explica o geoquímico Timothy Lyons. “Este estudo confirma que a poeira rica em ferro pode ter um grande impacto na vida a longas distâncias de sua origem.”
A poeira árida do norte da África é a maior fonte de partículas no ar da Terra. Ventos transportam cerca de 800 milhões de toneladas dessa poeira para o oeste todos os anos, até as Américas, carregando isótopos de ferro extraídos da superfície exposta do deserto.
O ferro tem um papel vital nas vias bioquímicas que ajudam a fixar o carbono da atmosfera em moléculas orgânicas. Embora o ferro seja essencial para a vida, sua disponibilidade é limitada, o que significa que a distribuição desse nutriente determina em grande parte onde a vida pode ser encontrada na Terra.
Nem todas as formas de ferro são facilmente aproveitáveis pelos organismos vivos. As condições atmosféricas podem fazer uma grande diferença na forma de ferro que chega à superfície do oceano.
“A poeira que alcança regiões como a Bacia Amazônica e as Bahamas pode conter ferro particularmente solúvel e acessível à vida, graças à grande distância percorrida desde o norte da África e ao maior tempo de exposição aos processos químicos na atmosfera”, explica Lyons.
A bioquímica Bridget Kenlee e sua equipe descobriram isso ao analisar amostras de perfuração do fundo do oceano. Eles observaram que, embora a quantidade total de poeira diminuísse com a distância, a quantidade de ferro biologicamente utilizável, que se dissolve na água, aumentava.
“Essa relação sugere que os processos químicos na atmosfera convertem o ferro menos reativo em formas mais acessíveis”, diz Owens.
Com seu alto teor de ferro bioativo, a poeira alimenta uma vasta cadeia alimentar a milhares de quilômetros de distância, fertilizando o fitoplâncton nos oceanos e as plantas da Amazônia. Esses dois sistemas são responsáveis por boa parte do oxigênio que respiramos.
Estudos anteriores já haviam sugerido que os padrões de ferro bioativo coincidem com áreas de maior atividade biológica, como o aumento da atividade microbiana na superfície do oceano até os recifes de corais do Caribe e a fertilização da região amazônica.
Um estudo de sete anos encontrou, em média, 28 milhões de toneladas de poeira norte-africana fornecendo à Bacia do Rio Amazonas cerca de 22 mil toneladas de fósforo fertilizante.
Pesquisas semelhantes também descobriram que a poeira da Ásia fertiliza as florestas tropicais do Havaí há milênios.
Embora as nuvens de poeira do Saara possam causar problemas, como desencadear alergias em humanos e até sufocar furacões, elas também são uma fonte vital de nutrientes para a vida na Terra, mostrando como os processos físicos do nosso planeta estão profundamente interligados com a vida que ele abriga.
Publicado em 30/09/2024 00h19
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