Como as emissões dos lagos alcalinos do Pantanal contribuem para as mudanças climáticas

Soda lakes are less common than freshwater lakes in the Pantanal. Credit: Thierry Alexandre Pellegrinetti / CENA-USP

doi.org/10.1016/j.scitotenv.2024.174646
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#Pantanal 

As variações sazonais com estações secas e chuvosas, além dos níveis flutuantes de nutrientes, são fatores que influenciam significativamente as emissões de gases de efeito estufa dos lagos alcalinos no Pantanal. Esses lagos são menos comuns que os lagos de água doce e possuem características únicas. O Pantanal é a maior área úmida tropical do mundo, com cerca de 153 mil km², abrangendo principalmente o sudoeste do Brasil (77,41%), mas também partes da Bolívia (16,41%) e do Paraguai (6,15%).

Um estudo realizado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) trouxe uma nova visão sobre os fatores biológicos que influenciam essas emissões. Eles destacam a necessidade urgente de mais pesquisas para compreender melhor o fenômeno.

No Pantanal, existem aproximadamente 900 lagos alcalinos, que são rasos e possuem um pH elevado, chegando a 11. Esses lagos possuem altas concentrações de sais, como carbonatos e bicarbonatos, que influenciam diretamente a microbiologia do ambiente e a diversidade de plâncton.

De acordo com o artigo publicado na revista *Science of the Total Environment*, é necessário incluir a composição e o papel das comunidades microbianas nos modelos de emissão de gases de efeito estufa para prever como esses ecossistemas podem reagir a mudanças ambientais, como secas extremas e incêndios florestais.

Nos últimos anos, o Pantanal sofreu com secas severas e incêndios sem precedentes, como os picos de 22.116 focos de incêndio em 2020. Em 2024, até agosto, já haviam sido registrados 9.167 focos, mais que nos anos anteriores inteiros, de acordo com o banco de dados BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Tipos de lagos e emissões de gases

Os lagos alcalinos do Pantanal foram classificados em três tipos principais, com base na composição da água e nas comunidades microbianas presentes: lagos eutróficos turvos (ET), lagos oligotróficos turvos (OT) e lagos oligotróficos claros com vegetação (CVO). Os lagos do tipo ET emitem mais metano, possivelmente devido à proliferação de cianobactérias e à decomposição de matéria orgânica. As cianobactérias mortas e o carbono produzido pela fotossíntese aceleram a degradação da matéria orgânica por bactérias, que produzem metano como subproduto, especialmente durante períodos de seca.

Lagos CVO também emitem metano, mas em menor quantidade. Já os lagos OT não apresentam emissões de metano, mas liberam dióxido de carbono (CO2) e óxido nitroso (N2O).

Impactos climáticos e biodiversidade

Embora as áreas úmidas naturais ocupem apenas 5% a 8% da superfície global, elas armazenam entre 20% e 30% do carbono do solo mundial, desempenhando um papel crucial na regulação do CO2 atmosférico e, portanto, no clima.

A maior parte dos lagos alcalinos do Pantanal está localizada na região de Nhecolândia, no município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O Pantanal é um importante bioma com uma vasta biodiversidade, abrigando mais de 2.000 espécies de plantas e 580 espécies de aves, que se beneficiam da abundância de plâncton nos lagos.

O papel dos microrganismos

O estudo revelou que a proliferação de cianobactérias está aumentando nos lagos, o que pode fazer com que essas áreas se tornem grandes emissores de gases de efeito estufa no futuro. Segundo Simone Raposo Cotta, microbiologista e uma das autoras do estudo, os microrganismos desempenham um papel fundamental nesses lagos, realizando ciclos de nutrientes e mantendo os processos ecológicos.

Em 2022, os pesquisadores publicaram um estudo descrevendo como as cianobactérias podem se adaptar às condições adversas na estação seca absorvendo CO2 e, em épocas mais favoráveis, sustentando o crescimento bacteriano.

Lagos alcalinos semelhantes, mas maiores e mais profundos, podem ser encontrados no Canadá, Rússia e África. A equipe utilizou dados metagenômicos para analisar os ciclos biogeoquímicos e as emissões de gases desses lagos, como metano e outros gases de efeito estufa.

Os pesquisadores ainda estão trabalhando em modelos que permitam estimar com precisão a contribuição das emissões desses lagos para o total de emissões do bioma Pantanal. Eles também estão investigando por que alguns lagos estão apresentando maiores concentrações de cianobactérias e como mitigar esse fenômeno.

Conclusão

O estudo destaca a importância de se aprofundar nas pesquisas sobre as emissões de gases de efeito estufa dos lagos alcalinos do Pantanal, considerando os efeitos das mudanças climáticas e a necessidade de estratégias para mitigar os impactos ambientais.


Publicado em 01/10/2024 18h15

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