Novo tratamento para Glioblastoma: Células imunes destroem células cancerígenas e preservam as saudáveis

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doi.org/10.1158/2326-6066.CIR-23-1094
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#Câncer 

Pesquisadores da Universidade de Genebra (UNIGE) e dos Hospitais Universitários de Genebra (HUG) desenvolveram células CAR-T capazes de atacar seletivamente os gliomas malignos, poupando os tecidos saudáveis ao redor.

O glioblastoma é o tipo mais comum e agressivo de tumor cerebral, com uma taxa de sobrevivência média de menos de dois anos após o diagnóstico. Os tratamentos atuais são, em grande parte, ineficazes, mas as imunoterapias surgem como uma nova esperança, apesar de seus resultados ainda limitados.

A equipe da UNIGE e dos HUG identificou um marcador específico na superfície das células tumorais e criou células imunes com anticorpos que destroem essas células. Essas células, chamadas CAR-T, também parecem atacar células tumorais que não possuem o marcador, enquanto preservam as células saudáveis. Esses resultados, publicados na revista *Cancer Immunology Research*, representam um primeiro passo rumo a ensaios clínicos em pacientes humanos.

Cientistas da Universidade de Genebra desenvolveram células CAR-T visando o marcador PTPRZ1 em células de glioblastoma, um passo promissor em direção a tratamentos mais eficazes. Essas células imunes projetadas mostraram a capacidade de atacar células tumorais marcadas e não marcadas sem prejudicar células saudáveis, estendendo com sucesso a vida de camundongos em ensaios pré-clínicos.

Desafios do Glioblastoma

O glioblastoma possui características biológicas que o tornam extremamente difícil de tratar. Ele cria um microambiente que limita a ação do sistema imunológico, escapando dos tratamentos convencionais e retornando rapidamente.

Denis Migliorini, professor assistente da Faculdade de Medicina da UNIGE e especialista em células CAR-T, trabalha com essa imunoterapia que consiste em coletar células T (do sistema imune) dos pacientes, modificá-las geneticamente para que expressem anticorpos capazes de detectar células tumorais específicas e, em seguida, reinjetá-las para que ataquem o tumor.

Uma Nova Abordagem com mRNA:

Tradicionalmente, as células CAR-T são geradas usando vetores virais, uma técnica eficaz em alguns tipos de câncer, mas que apresenta riscos no cérebro devido à sua permanência prolongada, o que pode gerar toxicidade. Para evitar esse problema, os cientistas introduziram RNA mensageiro (mRNA) nas células T, que codifica o anticorpo desejado. Assim, a própria célula produz a proteína que será posicionada em sua superfície para reconhecer o alvo tumoral.

Essa abordagem tem várias vantagens. A plataforma CAR-T é flexível e permite adaptações de acordo com as características e evolução do tumor, proporcionando um tratamento mais personalizado.

Coloração de imunofluorescência de uma seção representativa de tecido de glioblastoma humano. Em vermelho, os marcadores PTPRZ1, e em azul, os núcleos celulares. (barra de escala: 400 “m). Crédito: Denis Migliorini – UNIGE/HUG

Segurança e Eficácia

Para garantir que as células CAR-T atacassem apenas as células tumorais, os pesquisadores testaram a técnica em células saudáveis e tumorais em laboratório. Surpreendentemente, as CAR-T não atacaram as células saudáveis e ainda foram capazes de eliminar células tumorais que não apresentavam o marcador específico. Esse efeito, chamado “efeito espectador”, sugere que as CAR-Ts podem secretar moléculas inflamatórias que eliminam células cancerígenas mesmo sem o marcador original.

A segunda fase envolveu testes em modelos de camundongos com glioblastoma humano. Os resultados mostraram que o crescimento do tumor foi controlado, aumentando significativamente a sobrevivência dos camundongos, sem sinais de toxicidade. Ao aplicar as CAR-Ts diretamente no tumor no sistema nervoso central, a equipe utilizou menos células, o que reduziu o risco de toxicidade periférica.

Com esses dados promissores, os cientistas estão otimistas em relação a futuros ensaios clínicos em humanos.

Este tratamento representa uma inovação significativa no combate ao glioblastoma, oferecendo novas esperanças para pacientes que enfrentam essa forma devastadora de câncer.


Publicado em 03/10/2024 14h53

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