Cientistas identificam 5 fatores chave que Preveem o Sucesso da Imunoterapia do Câncer

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doi.org/10.1038/s41588-024-01899-0
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#Imunoterapia 

Os pesquisadores identificaram cinco fatores que preveem a resposta à imunoterapia, avançando no tratamento personalizado do câncer, o que poderia ajudar a direcionar a terapia de forma mais eficaz, reduzindo os efeitos colaterais desnecessários.

A imunoterapia revolucionou o tratamento do câncer ao aproveitar o sistema imunológico para atingir as células tumorais.

No entanto, apenas 20% a 40% dos pacientes apresentam uma resposta positiva, sendo que essas taxas variam de acordo com o tipo de câncer.

Identificar quais pacientes se beneficiarão da imunoterapia é um dos principais focos das pesquisas em andamento.

Muitos estudos exploraram as características únicas dos tumores, do microambiente que os cerca e do sistema imunológico do paciente.

Apesar desse progresso, ainda não está claro quais biomarcadores propostos refletem os mesmos fatores subjacentes ou como muitos fatores distintos afetam de forma independente o sucesso dessa terapia.

Os pesquisadores do IRB Barcelona identificaram cinco fatores-chave e independentes que determinam a resposta e a sobrevivência dos pacientes após receberem inibidores de ponto de controle (CPIs), um tipo de imunoterapia amplamente utilizado no tratamento do câncer.

Essas descobertas, publicadas na Nature Genetics, fornecem uma estrutura de referência para biomarcadores atuais e futuros de resposta à imunoterapia.

Eles também poderiam, no futuro, fornecer um caminho para um avanço significativo na personalização do tratamento do câncer, ajudando a identificar com mais precisão os pacientes que provavelmente se beneficiarão da imunoterapia.

Os resultados sugerem que os pacientes com determinados tipos de tumores, que atualmente não são considerados candidatos à imunoterapia (como aqueles com carcinomas de fígado ou rim), podem se beneficiar desse tipo de tratamento.

A equipe liderada pela Dra. Núria López-Bigas e pelo Dr. Abel González-Perez, do Laboratório de Genômica Biomédica do IRB Barcelona, em colaboração com pesquisadores de vários centros internacionais,abordou essa questão por meio de uma análise abrangente de dados genômicos, transcriptômicos e clínicos de 479 pacientes com tumores metastáticos que receberam tratamento com CIP.

Esses dados são de um banco de dados público gerado pela Dutch Hartwig Medical Foundation.”

Utilizamos uma abordagem imparcial para analisar milhares de características moleculares e clínicas e identificamos cinco fatores independentes que influenciam a resposta à imunoterapia e a sobrevida do paciente”, explica o Dr. López-Bigas, pesquisador do ICREA no IRB Barcelona.

A imunoterapia transformou o tratamento do câncer, mas prever quais pacientes responderão é um desafio. Pesquisadores do IRB Barcelona identificaram cinco fatores-chave – carga mutacional do tumor, infiltração de células T, atividade do TGF-β, tratamento anterior e potencial proliferativo do tumor – que influenciam a resposta à imunoterapia, oferecendo um caminho para um tratamento mais personalizado do câncer.

A atividade do fator de crescimento transformador beta (TGF-β) no microambiente do tumor, o tratamento anterior recebido pelo paciente e o potencial proliferativo do tumor.

Esses fatores em diferentes tipos de câncer estão associados à resposta aos ICPs e foram validados pelos autores em seis coortes independentes, abrangendo um total de 1.491 pacientes.

1. Carga mutacional tumoral (TMB): Tumores com um alto número de mutações tendem a produzir mais neoantígenos, tornando mais fácil para o sistema imunológico reconhecê-los e atacá-los. A TMB tem sido um dos biomarcadores mais estudados para prever a resposta aos ICPs.

2. Infiltração eficaz de células-T: A presença de células-T citotóxicas no tumor é essencial para a eficácia dos ICPs.

Este estudo confirmou que uma maior filtração dessas células está diretamente relacionada a uma melhor resposta à terapia.

3. TGF-β activity in the tumor microenvironment: Este fator influencia o comportamento de algumas células no microambiente tumoral.

A alta atividade do TGF-β pode suprimir a resposta imunológica, o que se reflete em uma tendência de os pacientes terem uma sobrevida pior após o tratamento imunoterápico.

4. Tratamento anterior: Os pacientes que receberam tratamentos anteriores tendem a apresentar uma resposta mais pior à imunoterapia.

5. Potencial proliferativo do tumor: pacientes com tumores que têm um índice proliferativo alto, que tende sendo mais agressivo, geralmente apresentam uma sobrevida pior após o tratamento.

Towards personalized cancer treatment

These five fators provide a framework for organizing the vast current knowledge about biomarkers of immunotherapy response.”

Até o momento, muitos estudos têm se concentrado em identificar e relatar biomarcadores individuais, mas nossos resultados sugerem que muitos desses biomarcadores podem ser versões diferentes dos mesmos fatores subjacentes”, diz o dr.

González-Pérez.

Além disso, os pesquisadores demonstraram que um modelo multivariado que combina esses cinco fatores permite uma classificação mais precisa do paciente do que usar somente a carga mutacional do tumor (como é feito com frequência na prática clínica), prevendo a probabilidade de os pacientes responderem à imunoterapia.

Esse avanço pode ter implicações clínicas significativas no futuro, pois pode evitar que pacientes com baixa probabilidade de resposta sofram os efeitos colaterais dos ICPs, que podem levar a doenças autoimunes, e também pode ajudar a reduzir o custo dos tratamentos.

Validação em coortes internacionais: Um dos destaques desse estudo é a validação desses cinco fatores em seis coortes independentes de pacientes com câncer, como de pulmão, cólon e melanoma.”

Confirmamos que esses fatores são relevantes em diferentes tipos de câncer e em diferentes populações de pacientes, reforçando assim seu valor clínico.

À medida que a pesquisa continuar, novos fatores latentes poderão ser descobertos em outros tipos de câncer ou em coortes maiores”, explica o Dr.

A equipe espera ter um volume maior de dados de pacientes no futuro para criar modelos mais precisos.

A precisão desses modelos para uma possível aplicação clínica futura deve ser validada por meio de ensaios clínicos prospectivos.

No entanto, esse avanço enfrenta um desafio significativo, ou seja, a dificuldade de acessar dados tão abrangentes e detalhados como os usados neste estudo.”

Este estudo representa um passo importante para entender como as diferentes características do tumor influenciam a resposta ao tratamento.

No futuro, esperamos que esses cinco fatores sejam integrados à prática clínica para orientar as decisões terapêuticas”, conclui o Dr.

Lopez-Bigas.


Publicado em 20/09/2024 10h22

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