doi.org/10.1016/j.xcrm.2024.101778
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#Câncer
Um estudo recente revelou que o medicamento 5-fluorouracil, usado há décadas na quimioterapia, atua de forma diferente em diferentes tipos de câncer. Essa descoberta pode ajudar a melhorar as combinações de medicamentos para tratar o câncer.
Desde os anos 1950, o 5-fluorouracil, ou 5-FU, tem sido utilizado para tratar vários tipos de câncer, como os cânceres de sangue e do sistema digestivo. Os médicos acreditavam que o medicamento funcionava danificando os blocos de construção do DNA. No entanto, pesquisadores do MIT descobriram que, em cânceres do intestino grosso e de outros órgãos digestivos, o 5-FU mata as células ao interferir na síntese de RNA.
Esses achados podem mudar a forma como os médicos tratam muitos pacientes com câncer. O 5-FU geralmente é administrado junto com outros medicamentos que danificam o DNA, mas o estudo mostrou que essa combinação não traz os efeitos esperados em casos de câncer de cólon. Em vez disso, combinar o 5-FU com medicamentos que afetam a síntese de RNA pode torná-lo mais eficaz para pacientes com cânceres do sistema digestivo.
Um mecanismo inesperado:
O 5-FU é usado como tratamento inicial para cânceres do cólon, reto e pâncreas, frequentemente em combinação com outros medicamentos que danificam o DNA. Acreditava-se que essa combinação funcionava porque o 5-FU interferia na produção dos blocos de construção do DNA, dificultando a reparação do DNA danificado e levando à morte das células.
Os pesquisadores do MIT queriam entender melhor como essas combinações de medicamentos funcionam para matar as células cancerosas. Eles testaram o 5-FU com outros medicamentos em células de câncer de cólon cultivadas em laboratório. Para sua surpresa, os resultados mostraram que os medicamentos não trabalhavam juntos como esperado e, em muitos casos, eram menos eficazes do que o uso de cada um separadamente.
Isso levou os cientistas a se perguntarem como o 5-FU realmente estava funcionando, já que não parecia estar apenas interferindo na reparação do DNA. Pesquisas anteriores mostravam que o 5-FU também se incorporava ao RNA, mas não estava claro o quanto isso contribuía para a morte das células cancerosas.
No estudo, os pesquisadores descobriram que o metabolito do 5-FU que interfere no RNA era mais eficaz em matar células de câncer de cólon do que o que afeta o DNA. Eles perceberam que esse dano ao RNA afetava principalmente o RNA ribossômico, uma molécula essencial para a formação dos ribossomos, que são estruturas nas células responsáveis pela produção de proteínas. Sem ribossomos funcionando corretamente, as células não conseguem produzir as proteínas necessárias para sua sobrevivência.
Novas combinações de tratamento:
Os resultados sugerem que combinar o 5-FU com medicamentos que estimulam a produção de ribossomos pode ser uma combinação poderosa. No estudo, os cientistas mostraram que um inibidor de KDM2A, uma molécula que suprime a produção de ribossomos, aumentou a morte de células de câncer de cólon tratadas com 5-FU.
Os achados também ajudam a explicar por que a combinação do 5-FU com medicamentos que danificam o DNA pode reduzir a eficácia de ambos. Alguns medicamentos que danificam o DNA enviam um sinal para a célula parar de produzir novos ribossomos, o que anularia o efeito do 5-FU no RNA. Uma abordagem melhor pode ser administrar os medicamentos em dias diferentes, permitindo que cada um tenha seus benefícios sem que anulem o efeito um do outro.
Próximos passos:
Os pesquisadores agora esperam realizar ensaios clínicos para testar um novo cronograma de administração desses medicamentos, ajustando a ordem e o intervalo com que são administrados. Como os medicamentos já são amplamente aceitos no tratamento de cânceres do sistema digestivo, essa mudança no cronograma pode ser rapidamente testada em pacientes.
Além disso, os cientistas buscam identificar marcadores biológicos que possam prever quais pacientes responderão melhor às combinações de tratamento com 5-FU. Por exemplo, a presença de RNA polimerase I, ativa durante a produção de RNA ribossômico, pode ser um bom indicador de resposta ao tratamento.
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Publicado em 15/10/2024 02h48
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