Quando dois se tornam um: A surpreendente fusão de Água-Vivas de Pente

Após a lesão, as águas-vivas-de-pente podem se fundir, unindo seus sistemas nervoso e digestivo inteiramente. Essa fusão, refletindo uma ausência de alorreconhecimento, oferece novos insights sobre a potencial pesquisa regenerativa e do sistema imunológico. Crédito: Mariana Rodriguez-Santiago

doi.org/10.1016/j.cub.2024.07.084
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#águasvivas 

Pesquisadores descobriram que as águas-vivas de pente têm a capacidade de se fundirem em um único organismo, compartilhando contrações musculares e sistemas digestivos após sofrerem uma lesão. Essa habilidade inesperada, que envolve a falta de um sistema de reconhecimento entre si, permite que elas integrem seus sistemas nervosos de maneira surpreendentemente eficaz.

Cientistas, em um estudo publicado hoje (7 de outubro) na revista Current Biology, fizeram a surpreendente descoberta de que uma espécie de água-viva de pente (Mnemiopsis leidyi) pode se fundir, permitindo que dois indivíduos se tornem um só após uma lesão. Depois de fundidos, eles rapidamente sincronizam suas contrações musculares e unem seus tratos digestivos para compartilhar alimento.

“Nossas descobertas sugerem que os ctenóforos (águas-vivas de pente) podem não ter um sistema de alorreconhecimento, que é a capacidade de distinguir entre ‘eu’ e ‘outro’,” explica Kei Jokura, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e dos Institutos Nacionais de Ciências Naturais, em Okazaki, Japão. “Além disso, os dados indicam que dois indivíduos distintos podem fundir rapidamente seus sistemas nervosos e compartilhar impulsos elétricos.”

Observações Experimentais no Laboratório:

Jokura e sua equipe fizeram essa observação após manterem uma população de águas-vivas de pente em um tanque de água salgada no laboratório. Eles perceberam um indivíduo incomumente grande, que parecia ter duas extremidades traseiras e duas estruturas sensoriais conhecidas como órgãos apicais, ao invés de uma. Isso levantou a hipótese de que esse indivíduo peculiar poderia ter se formado pela fusão de duas águas-vivas lesionadas.

Para testar essa ideia, eles removeram partes das “barbatanas” de outras águas-vivas e colocaram-nas juntas em pares. O resultado foi surpreendente: em 9 de 10 vezes, os indivíduos lesionados se fundiram em um só, sobrevivendo por pelo menos três semanas.

Integração e Reação das Águas-Vivas Fundidas:

Após uma única noite, os dois indivíduos originais se transformaram em um, sem sinais visíveis de separação. Quando os pesquisadores tocaram em uma das barbatanas, o corpo todo da água-viva fundida reagiu, sugerindo que seus sistemas nervosos também haviam se integrado completamente.

“Ficamos impressionados ao ver que uma estimulação mecânica em um lado da água-viva fundida resultava em uma contração muscular sincronizada do outro lado,” disse Jokura.

Observações mais detalhadas mostraram que, na primeira hora, os movimentos das águas-vivas fundidas eram espontâneos. Mas após esse período, o ritmo das contrações começou a se alinhar. Em apenas duas horas, 95% das contrações musculares do animal fundido já estavam completamente sincronizadas. Os pesquisadores também analisaram o trato digestivo e descobriram que ele também havia se unido. Quando um dos “bocais” ingeriu camarões com corante fluorescente, as partículas de comida passaram pelo canal fundido. Eventualmente, a água-viva expeliu os resíduos por ambos os ânus, embora não ao mesmo tempo.

Implicações para Pesquisas Futuras:

Os pesquisadores ainda não sabem ao certo como a fusão de dois indivíduos em um ajuda na sobrevivência dessas águas-vivas. Eles sugerem que estudos futuros ajudarão a preencher essa lacuna de conhecimento, com possíveis implicações para a pesquisa sobre regeneração.

“Os mecanismos de alorreconhecimento estão relacionados ao sistema imunológico, e a fusão de sistemas nervosos está intimamente ligada à pesquisa sobre regeneração,” afirma Jokura. “Compreender os mecanismos moleculares por trás dessa fusão pode impulsionar essas áreas importantes de pesquisa.”


Publicado em 09/10/2024 00h31

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