doi.org/10.1016/j.cell.2024.08.048
Credibilidade: 989
#Embrião
Cientistas descobriram um possível “botão de pausa” nas primeiras fases do desenvolvimento humano.
Há muito tempo se discute se os humanos podem controlar o ritmo do seu desenvolvimento. Este novo estudo sugere que os humanos podem ter uma capacidade adormecida de desacelerar o crescimento embrionário, mesmo que não usem isso durante a gravidez. Essas descobertas podem ter grande impacto na compreensão do início da vida humana e ajudar a melhorar tecnologias reprodutivas, como a fertilização in vitro (FIV).
O que é a Diapausa Embrionária”
Em alguns mamíferos, o desenvolvimento contínuo do embrião pode ser temporariamente desacelerado para aumentar as chances de sobrevivência tanto do embrião quanto da mãe. Esse fenômeno, chamado de diapausa embrionária, acontece geralmente na fase de blastocisto, logo antes do embrião se fixar na parede do útero. Durante essa pausa, o embrião permanece flutuando no útero, o que prolonga a gravidez.
Esse estado de dormência pode durar semanas ou até meses, até que o desenvolvimento seja retomado quando as condições forem mais favoráveis. Nem todos os mamíferos utilizam essa estratégia naturalmente, mas ela pode ser induzida em laboratório. A dúvida era se as células humanas poderiam responder a gatilhos para entrar nesse estado de pausa.
A Descoberta
Um estudo realizado pelos laboratórios de Nicolas Rivron, do Instituto de Biotecnologia Molecular em Viena, e Aydan Bulut-Karsl”o”lu, do Instituto Max Planck em Berlim, revelou que os mecanismos moleculares que controlam a diapausa embrionária também podem funcionar em células humanas. Esses resultados foram publicados em setembro de 2023 na revista *Cell*.
Modelos com Células-Tronco para Estudar a Diapausa em Humanos:
Os cientistas não realizaram experimentos com embriões humanos. Em vez disso, usaram células-tronco humanas e modelos de blastocistos feitos a partir dessas células, chamados de blastoides, que são uma alternativa ética ao uso de embriões. Eles descobriram que, ao modificar um caminho molecular específico, o da sinalização mTOR, os blastoides entravam em um estado de dormência semelhante à diapausa.
Esse estado é marcado por menor divisão celular, desenvolvimento mais lento e uma capacidade reduzida de se fixar na parede uterina. Esse “botão de pausa” só pode ser ativado em um período curto de desenvolvimento. Mas o mais interessante é que essa pausa é reversível: quando o caminho mTOR é reativado, o desenvolvimento volta ao normal.
Possíveis Aplicações na Medicina Reprodutiva
Os pesquisadores concluíram que, assim como outros mamíferos, os humanos podem ter a capacidade de temporariamente desacelerar o desenvolvimento, mesmo que isso não aconteça naturalmente durante a gravidez. Isso pode ser uma herança evolutiva que não usamos mais.
Essas descobertas podem ter implicações importantes para a medicina reprodutiva. Por exemplo, acelerar o desenvolvimento embrionário pode aumentar as chances de sucesso na FIV, e ativar essa pausa durante o processo poderia dar mais tempo para avaliar a saúde do embrião e sincronizá-lo melhor com o corpo da mãe para uma implantação mais eficaz.
Conclusão:
Esse estudo traz novas perspectivas sobre o desenvolvimento inicial dos seres humanos e pode abrir novas portas para melhorar a saúde reprodutiva. Como o estudo destaca, a colaboração entre especialistas de diferentes áreas foi essencial para essa descoberta, e o trabalho também abre caminho para entender melhor como as células percebem os sinais que controlam seu desenvolvimento.
Publicado em 02/10/2024 09h10
Artigo original:
Estudo original: