doi.org/10.1038/s41467-024-51637-7
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#Célula
Pesquisadores na Austrália descobriram um novo tipo de célula que preenche uma grande lacuna na nossa compreensão de como o corpo dos mamíferos se cura.
Por mais de um século, os cientistas acreditavam que uma célula como essa deveria existir – e agora, finalmente, uma versão adulta foi encontrada, escondida na aorta de camundongos adultos.
Essa descoberta levou nove anos para ser feita. Os pesquisadores chamaram essas células de “progenitoras EndoMac” e, agora, a equipe está procurando células semelhantes no corpo humano.
“Essas células têm uma função importante: ajudar formando novos vasos sanguíneos quando o corpo precisa”, explica a cientista médica Sanuri Liyanage, do Instituto de Pesquisa Médica e Saúde da Austrália do Sul (SAHMRI). “Elas são ativadas quando há uma lesão ou má circulação de sangue, e rapidamente se multiplicam para ajudar na cura.”
Liyanage e sua equipe isolaram células progenitoras EndoMac de camundongos e as cultivaram em laboratório, onde formaram colônias. Quando essas células foram injetadas em camundongos com diabetes, elas melhoraram muito a cicatrização de feridas.
Para entender como as células progenitoras EndoMac funcionam, é importante saber um pouco sobre os macrófagos. Macrófagos são células imunes que surgem nos primeiros estágios de desenvolvimento do embrião e são essenciais para o crescimento e a defesa do organismo. Na fase adulta, a maioria dos tecidos do corpo contém macrófagos que foram formados ainda no estágio embrionário. Esses macrófagos às vezes se renovam para se manterem prontos para combater infecções.
Há cerca de cem anos, os cientistas levantaram a hipótese de que células-tronco que circulam no sangue dos mamíferos poderiam criar novos macrófagos, substituindo aqueles que já existem nos tecidos do corpo.
Por muitos anos, os cientistas acreditaram que essas células-tronco, que foram encontradas em embriões de camundongos, existiam na fase adulta porque eram armazenadas na medula óssea. Mas evidências recentes sugerem que essas células-tronco derivadas da medula óssea estão, na verdade, limitadas a poucos tecidos, como o intestino, a pele e o coração.
Agora, alguns cientistas suspeitam que novos macrófagos em adultos possam se originar de células-tronco que já estavam presentes no corpo antes do nascimento, mas que ainda não haviam sido descobertas.
Essa hipótese é bastante discutida, mas o estudo recente feito na Austrália apoia uma mudança de paradigma. As descobertas sugerem que células progenitoras de macrófagos se formam na aorta durante o desenvolvimento inicial do embrião. À medida que o camundongo cresce, essas células-tronco circulantes produzem novos macrófagos nos tecidos.
Uma característica interessante das células progenitoras EndoMac é que elas não possuem “etiquetas de identificação”, o que significa que podem ser transplantadas sem que o sistema imunológico as ataque como corpos estranhos.
Quando Liyanage, sua coautora Anna Williamson e sua equipe cultivaram essas células progenitoras em laboratório, elas formaram uma colônia. Ao injetar essa colônia no sangue de um camundongo que teve a circulação da perna bloqueada para simular uma “ferida diabética”, a ferida cicatrizou mais rápido. Em duas semanas, as células-tronco circulantes haviam se transformado em macrófagos e células endoteliais, que revestem os vasos sanguíneos.
Agora, a equipe está investigando se existe uma célula semelhante na aorta humana. Os resultados ainda não foram publicados, mas os pesquisadores estão otimistas com os resultados iniciais.
“Em teoria, isso pode ser uma mudança radical para pacientes com feridas crônicas”, diz Liyanage. “Estamos animados para continuar explorando o potencial dessas células. Ainda é cedo, mas as implicações podem ser enormes.”
Publicado em 27/09/2024 11h16
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