Brasileiros vão participar do grupo que vai estrear o James Webb

James Webb será lançado ao espaço no dia 31 de outubro

A comunidade astronômica mundial enxerga o ano de 2021 como um grande passo rumo à exploração do universo. Isso porque está previsto para o dia 31 de outubro o lançamento do Telescópio James Webb, dispositivo construído ao longo de três décadas com o intuito de [complementar o trabalho do] telescópio Hubble, lançado ao espaço em 1990.

No dia 29 de março, o Instituto de Ciências de Telescópios Espaciais anunciou os 286 projetos que poderão participar das primeiras observações do novo telescópio, e o Brasil é um dos países que terá representantes no ciclo 1 de utilização do novo equipamento espacial.

O projeto brasileiro

A proposta denominada “Suprimindo a formação estelar: desvendando ventos moleculares em núcleos ativos de galáxias” é liderada pelo Grupo de Astrofísica da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e tem como investigador principal o professor Rogemar André Riffel, do Departamento de Física da universidade.

Junto com ele estão Marina Bianchin, doutoranda em Física na UFSM e os pesquisadores Rogério Riffel e Thaisa Storchi-Bergmann, ambos da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Também colabora com o projeto a pesquisadora Nadia Zakamska, da Johns Hopkins University, dos Estados Unidos.

“A nossa proposta de observação é de três galáxias relativamente próximas, que estão a aproximadamente 300 milhões de anos luz de distância da Terra. Elas foram selecionadas por possuírem no centro buracos negros super massivos que estão capturando matéria ativamente”, destaca o professor Rogemar Riffel.

O professor afirma que observações anteriores já indicaram que essas galáxias possuem uma grande quantidade de gases moleculares, em especial de hidrogênio. Mas, com o novo instrumento espacial, será possível verificar como essa matéria produzida no entorno de buracos negros pode afetar a evolução destes sistemas interestelares.

“Os satélites anteriores só permitem a observação de uma determinada região em cada galáxia, e o James Webb vai permitir olhar os detalhes mínimos destes agrupamentos de corpos celestes. Com isso, conseguiremos mapear a quantidade de gás molecular, onde ele está, como se distribui e como se movimenta”, ressalta o especialista.

Importância para a astronomia brasileira

A astronomia brasileira já proporcionou um momento histórico neste ano ao lançar no espaço o satélite Amazônia-1, o primeiro 100% nacional a ser colocado em órbita. Diante disso, a seleção de um projeto composto majoritariamente por cientistas do país para participar das primeiras observações de um telescópio que promete revolucionar a exploração do universo é mais um passo importante para a ciência brasileira.

“O Brasil estar acompanhando este processo mostra o quão competitiva é a nossa ciência, porque a gente concorreu com cientistas de todo o mundo”, destaca Rogemar.

“Isso também significa que o que a gente vem produzindo até então vai começar a render cada vez mais frutos, uma vez que, possivelmente, o Brasil estará presente nas próximas descobertas relacionadas ao James Webb”, completa.

Formulação, envio e aprovação da proposta

As observações no novo telescópio estão previstas para terem início em maio de 2022, após o instrumento passar por algumas verificações técnicas quando já estiver em órbita. A proposta do grupo brasileiro prevê cerca de 16 horas de utilização do equipamento, tempo esse definido já no momento da formulação e do envio do projeto para o Instituto de Ciências de Telescópios Espaciais.

Segundo o professor, na solicitação de observação os cientistas precisam informar os objetos de estudo, quanto tempo será necessário para a observação deles e mostrar que com este tempo terão os dados e a qualidade necessária para desenvolver pesquisas.

“Depois disso, a proposta é analisada por um comitê científico, e isso tem um peso enorme na avaliação de uma proposta. O comitê vai julgar se ela é relevante, ou não, para a comunidade internacional”, afirma o docente da UFSM.

Características do James Webb

O telescópio James Webb teve um dos maiores investimentos da história para a produção de um equipamento espacial, com cerca de US$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões na cotação atual) destinados à sua construção. Ele levou aproximadamente 30 anos para ser totalmente construído e vem para [complementar o trabalho] do telescópio Hubble.

O telescópio é considerado uma revolução para a astronomia mundial

Divulgação/Nasa


Enquanto o Hubble possui 2,4 metros de diâmetro, o James Webb terá 6,5 metros. Para além do tamanho, o novo instrumento é considerado inovador porque, enquanto o seu antecessor observa corpos celestes próximos nos espectros ultravioleta, visível e infravermelho, ele vai permitir observações de objetos que possuem uma faixa de frequência mais baixa, podendo analisar matérias que estão a distâncias consideradas médias e longas.

Isso significa que o James Webb vai poder observar distâncias maiores no espaço e com uma riqueza de detalhes nunca vista, permitindo que os pesquisadores consigam estudar um período de tempo onde começaram a surgir as primeiras estrelas que se agruparam nas galáxias.

“O James Webb é um equipamento único, o que há de mais moderno na astronomia. É uma nova era para a comunidade astronômica e certamente representará uma grande revolução”, destaca Rogemar Riffel.

**[O verdadeiro substitudo do Hubble será o telescópio Nancy Grace Roman].


Publicado em 12/04/2021 19h47

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