Raros ‘superflares’ poderiam um dia ameaçar a Terra

Astrônomos sondando as margens da Via Láctea observaram nos últimos anos algumas das mais brilhantes exibições pirotécnicas da galáxia: superflares.

Esses eventos ocorrem quando as estrelas, por razões que os cientistas ainda não entendem, ejetam enormes explosões de energia que podem ser vistas a centenas de anos-luz de distância. Até recentemente, os pesquisadores supunham que tais explosões ocorriam principalmente em estrelas que, ao contrário da da Terra, eram jovens e ativas.

Agora, uma nova pesquisa mostra com mais confiança do que nunca que os superlares podem ocorrer em estrelas mais antigas e mais silenciosas como a nossa – embora mais raramente, ou cerca de uma vez a cada poucos milhares de anos.

Os resultados devem ser um alerta para a vida em nosso planeta, disse Yuta Notsu, principal autor do estudo e pesquisador visitante da CU Boulder.

Se uma superflare irrompesse do sol, ele disse, a Terra provavelmente se sentaria no caminho de uma onda de radiação de alta energia. Tal explosão poderia atrapalhar a eletrônica em todo o mundo, provocando o apagão generalizado e o curto-circuito dos satélites de comunicação em órbita.

Notsu apresentará sua pesquisa em uma coletiva de imprensa hoje no 234º encontro da American Astronomical Society em St. Louis.

“Nosso estudo mostra que os superflares são eventos raros”, disse Notsu, pesquisador do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial da CU Boulder. “Mas há alguma possibilidade de que possamos experimentar um evento como esse nos próximos 100 anos ou mais.”

Os cientistas descobriram este fenômeno a partir de uma fonte improvável: o Telescópio Espacial Kepler. A espaçonave da NASA, lançada em 2009, busca planetas circulando estrelas distantes da Terra. Mas também descobriu algo estranho sobre as próprias estrelas. Em eventos raros, a luz de estrelas distantes parecia ficar subitamente, e momentaneamente, mais brilhante.

Pesquisadores apelidaram aquelas explosões gigantescas de “superflares” de energia.

Perto de casa

Notsu explicou que as labaredas de tamanho normal são comuns no sol. Mas o que os dados do Kepler mostravam parecia ser muito maior, da ordem de centenas a milhares de vezes mais poderosa do que a maior explosão já registrada com instrumentos modernos na Terra.

E isso levantou uma questão óbvia: um superflare também poderia ocorrer em nosso próprio sol?

“Quando nosso sol era jovem, era muito ativo porque girava muito rápido e provavelmente gerava foguetes mais potentes”, disse Notsu, também do Observatório Solar Nacional em Boulder. “Mas não sabíamos se tais grandes explosões ocorrem no sol moderno com frequência muito baixa”.

Para descobrir, Notsu e uma equipe internacional de pesquisadores se voltaram para dados da sonda Gaia da Agência Espacial Européia e do Observatório Apache Point, no Novo México. Durante uma série de estudos, o grupo usou esses instrumentos para diminuir uma lista de supermarras que vieram de 43 estrelas que se assemelhavam ao nosso sol. Os pesquisadores então submeteram esses eventos raros a uma análise estatística rigorosa.

A linha de fundo: a idade é importante. Com base nos cálculos da equipe, as estrelas mais jovens tendem a produzir mais superflares. Mas as estrelas mais velhas, como o nosso sol, agora respeitável 4,6 bilhões de anos, não estão fora do gancho.

“Estrelas jovens têm superflares uma vez a cada semana”, disse Notsu. “Para o sol, é uma vez a cada poucos milhares de anos, em média.”

O grupo publicou seus últimos resultados em maio no The Astrophysical Journal.

Notsu não pode ter certeza quando o próximo grande show de luz solar está prestes a atingir a Terra. Mas ele disse que é uma questão de quando, não se. Ainda assim, isso poderia dar tempo para os humanos se prepararem, protegendo a eletrônica no chão e em órbita da radiação no espaço.

“Se um superflare ocorreu há 1.000 anos, provavelmente não era um grande problema. As pessoas podem ter visto uma grande aurora”, disse Notsu. “Agora, é um problema muito maior por causa da nossa eletrônica.”


Publicado em 11/06/2019

Artigo original: https://phys.org/news/2019-06-rare-superflares-day-threaten-earth.html

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