Revelações Galácticas: Precursores Moleculares da Vida Descobertos na Nuvem de Perseu

Composição artística de uma “sopa” de moléculas prebióticas em torno de um disco protoplanetário. Crédito: Gabriel Pérez Díaz (IAC)

#Vida 

Um estudo liderado pela investigadora Susana Iglesias, do Instituto de Astrofísica das Canárias, detetou a presença de grandes quantidades de moléculas orgânicas complexas numa das regiões de formação estelar mais próximas do Sistema Solar. Os resultados disso foram publicados na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

As cientistas Susan Iglesias-Groth, do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) e Martina Marín-Dobrincic, da Universidade Politécnica de Cartagena, descobriram a presença de numerosas moléculas prebióticas na região de formação estelar IC348 da Nuvem Molecular Perseus, uma aglomerado estelar jovem com cerca de 2-3 milhões de anos.

Algumas dessas moléculas biológicas são consideradas tijolos de construção essenciais para a construção de moléculas mais complexas, como os aminoácidos, que formaram o código genético de microrganismos antigos e possibilitaram o florescimento da vida na Terra. Conhecer a distribuição e a abundância dessas moléculas precursoras em regiões onde muito provavelmente os planetas estão se formando é um importante desafio para a astrofísica.

A Nuvem de Perseu é uma das regiões de formação estelar mais próximas do Sistema Solar. Muitas de suas estrelas são jovens e possuem discos protoplanetários onde podem ocorrer os processos físicos que dão origem aos planetas. “É um extraordinário laboratório de química orgânica” explica Iglesias-Groth que em 2019 encontrou fulerenos na mesma nuvem. Estas são moléculas complexas de carbono puro que muitas vezes ocorrem como blocos de construção para as moléculas-chave da vida.

Agora, uma nova pesquisa detectou na parte interna desta região moléculas comuns, como hidrogênio molecular (H2), hidroxila (OH), água (H2O), dióxido de carbono (CO2) e amônia (NH3), bem como várias moléculas contendo carbono. que poderia desempenhar um papel importante na produção de hidrocarbonetos mais complexos e moléculas prebióticas, como cianeto de hidrogênio (HCN), acetileno (C2H2), diacetileno (C4H2), cianoacetileno (HC3N), cianobutadiino (HC5N), etano (C2H6), hexatriino (C6H2) e benzeno (C6H6).

Os dados também mostram a presença de moléculas mais complexas como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) e os fulerenos C60 e C70. “O IC 348 parece ser muito rico e diversificado em seu conteúdo molecular”, afirma Iglesias-Gorth. “A novidade é que vemos as moléculas no gás difuso a partir do qual as estrelas e os discos protoplanetários estão se formando.”

A presença de moléculas prebióticas em locais interestelares tão próximos de aglomerados estelares sugere a possibilidade de processos de acreção estarem ocorrendo em planetas jovens, o que poderia contribuir para a formação de moléculas orgânicas complexas. Essas moléculas-chave poderiam ter sido fornecidas aos planetas nascentes nos discos protoplanetários e poderiam, assim, ajudar a produzir ali uma rota para as moléculas da vida”, enfatiza Marina-Dobrincic.

A detecção pelos dois pesquisadores é baseada em dados obtidos com o satélite Spitzer da NASA. O próximo passo será usar o poderoso Telescópio Espacial James Webb (James Webb). “A capacidade espectroscópica do James Webb poderia fornecer detalhes sobre a distribuição espacial de todas essas moléculas, e estender a presente busca para outras mais complexas, dando maior sensibilidade e resolução que são essenciais para confirmar a muito provável presença de aminoácidos no gás nesta e em outras regiões de formação estelar”, conclui Iglesias-Groth.


Publicado em 09/04/2023 15h36

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