Bactérias semelhantes à sífilis encontradas em restos humanos de 2.000 anos em Laguna, SC

Esqueleto humano em um cemitério pré-histórico no sul do Brasil, onde foi encontrado DNA de uma bactéria semelhante à bactéria da sífilis

José Filippini


doi.org/10.1038/s41586-023-06965-x
Credibilidade: 989
#Indígenas 

Quatro esqueletos em um cemitério pré-histórico no Brasil contêm DNA de bactérias intimamente relacionadas à bactéria da sífilis, dando pistas sobre a origem da infecção

DNA bacteriano intimamente relacionado à bactéria da sífilis foi encontrado em restos humanos de 2.000 anos de idade no Brasil, tornando estas as amostras mais antigas conhecidas de tais infecções.

A sífilis é causada por uma subespécie da bactéria Treponema pallidum. Outras subespécies podem causar as infecções bouba e bejel, que são semelhantes à sífilis, mas geralmente não são transmitidas sexualmente.

Relativamente pouco se sabe sobre as origens das chamadas infecções treponêmicas. Um surto de sífilis na Europa do século XV levou muitos a acreditar que Cristóvão Colombo trouxe a infecção das Américas após as suas expedições. Mas evidências mais recentes de restos humanos na Europa sugerem que já existia no continente antes da época de Colombo.

Na última reviravolta dos acontecimentos, Verena Schünemann, da Universidade de Zurique, na Suíça, e seus colegas encontraram a evidência mais antiga de uma infecção treponêmica depois de investigar um cemitério pré-histórico perto da cidade de Laguna, no sul do Brasil.

Trinta e sete restos mortais, principalmente esqueletos incompletos, mostraram evidências de infecção treponêmica, como inflamação óssea e lesões no crânio. Os investigadores não sabem porque é que os restos mortais estavam tão bem preservados dadas as condições quentes e húmidas, diz Schünemann.

Eles conseguiram extrair DNA suficiente de quatro indivíduos para recriar os genomas das bactérias que os infectaram. Uma análise desses genomas mostrou que eles estavam infectados com uma subespécie de T. pallidum que era possivelmente um ancestral de T. pallidum endemicum, que causa o bejel. Geralmente transmitido por contato não sexual com a pele ou compartilhamento de utensílios, o bejel é caracterizado por lesões que começam na boca e se espalham para a pele e ossos.

A equipe não encontrou evidências de T. pallidum pallidum, que causa a sífilis, tornando obscura a origem dessa subespécie específica.

“É sempre um grande mistério sobre as doenças de origem”, diz Schünemann. “Embora ainda não possamos revelar as verdadeiras origens da sífilis, podemos dizer que a doença treponémica existia há pelo menos 2.000 anos na América.”

As infecções podem ter surgido em outras partes do mundo antes de chegarem às Américas, mas são necessários dados para provar isso, diz ela.

“Este estudo é realmente emocionante porque é o primeiro DNA treponêmico verdadeiramente antigo que foi recuperado de restos arqueológicos humanos com mais de algumas centenas de anos”, diz Brenda Baker, da Arizona State University. “Os dados genômicos fornecem informações sobre a evolução do patógeno e as adaptações que ele pode ter feito ao longo do tempo, visto que o bejel está atualmente associado a climas áridos, e não a climas úmidos, como o litoral do Brasil”.


Publicado em 25/01/2024 18h35

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