Uma extensa ‘tela’ com 13 km de comprimento de feras da era do gelo descobertas escondidas na floresta amazônica

Milhares de imagens desenhadas durante a última era glacial foram encontradas na Floresta Amazônica.

(Imagem: © Marie-Claire Thomas / Wild Blue Media)


Pessoas da idade do gelo pintaram esses animais 12.600 anos atrás.

Uma “tela” de 13 quilômetros de extensão cheia de desenhos da era do gelo de mastodontes, preguiças gigantes e outras feras extintas foi descoberta na floresta amazônica.

A arte deslumbrante, desenhada com ocre – um pigmento vermelho freqüentemente usado como tinta no mundo antigo – abrange quase 13 quilômetros de rocha nas colinas acima de três abrigos de rocha na Amazônia colombiana, um novo estudo descobriu.

“Essas imagens realmente são incríveis, produzidas pelos primeiros povos a viverem no oeste da Amazônia”, disse em um comunicado o co-pesquisador Mark Robinson, arqueólogo da Universidade de Exeter, que analisou a arte rupestre ao lado de cientistas colombianos.

Arte rupestre mostrando humanos interagindo com animais da era do gelo. (Crédito da imagem: Ella Al-Shamahi)

Parte da arte rupestre desapareceu ao longo dos milênios. (Crédito da imagem: Ella Al-Shamahi)

Os indígenas provavelmente começaram a pintar essas imagens no sítio arqueológico de Serranía La Lindosa, no extremo norte da Amazônia colombiana, no final da última era glacial, cerca de 12.600 a 11.800 anos atrás. Durante esse tempo, “a Amazônia ainda estava se transformando na floresta tropical que conhecemos hoje”, disse Robinson. O aumento das temperaturas mudou a Amazônia de uma paisagem de retalhos de savanas, arbustos espinhosos e floresta para a frondosa floresta tropical de hoje.

Os milhares de pinturas da era do gelo incluem impressões de mãos, desenhos geométricos e uma grande variedade de animais, desde os “pequenos” – como veados, antas, crocodilos, morcegos, macacos, tartarugas, serpentes e porcos-espinhos – até os “grandes”, incluindo camelídeos, cavalos e mamíferos com cascos de três dedos e trombas. Outras figuras retratam humanos, cenas de caça e imagens de pessoas interagindo com plantas, árvores e criaturas da savana. E, embora também haja arte rupestre de animais da era do gelo no Brasil Central, as novas descobertas são mais detalhadas e lançam luz sobre a aparência dessas espécies agora extintas, disseram os pesquisadores.



“As pinturas dão um vislumbre vívido e emocionante da vida dessas comunidades”, disse Robinson. “É inacreditável para nós hoje pensar que eles viviam e caçavam herbívoros gigantes, alguns que eram do tamanho de um carro pequeno.”

Muitos dos grandes animais da América do Sul foram extintos no final da última era do gelo, provavelmente devido a uma combinação de caça humana e mudança climática, disseram os pesquisadores.

As pessoas da era do gelo desenhavam essas figuras, impressões de mãos e desenhos com ocre vermelho. (Crédito da imagem: Marie-Claire Thomas / Wild Blue Media)

Escavações dentro dos abrigos de pedra revelaram que esses acampamentos foram alguns dos primeiros locais ocupados por humanos na Amazônia. As pinturas e acampamentos oferecem pistas sobre as dietas desses primeiros caçadores-coletores; por exemplo, restos de ossos e plantas indicam que o cardápio incluía frutos de palmeiras e árvores, piranhas, crocodilos, cobras, sapos, roedores como paca e capivara e tatus, disseram os pesquisadores.

Cientistas escavaram os abrigos de rocha em 2017 e 2018, após o tratado de paz de 2016 entre o governo colombiano e as FARC, um grupo guerrilheiro rebelde. Após o acordo de paz, pesquisadores lideraram um projeto conhecido como LastJourney, que tinha como objetivo descobrir quando os povos colonizaram a Amazônia e qual o impacto de sua agricultura e caça na biodiversidade da região.

“Essas pinturas rupestres são uma evidência espetacular de como os humanos reconstruíram a terra e como caçaram, cultivaram e pescaram”, disse o co-pesquisador José Iriarte, arqueólogo da Universidade de Exeter, no comunicado. “É provável que a arte fosse uma parte poderosa da cultura e uma forma de as pessoas se conectarem socialmente.”

As descobertas foram publicadas em abril na revista Quaternary International, e a Universidade de Exeter divulgou um comunicado hoje (30 de novembro) para coincidir com um novo documentário de TV sobre a descoberta chamado “Mistério da Selva: Reinos Perdidos da Amazônia”, que irá ao ar no Reino Unido em dezembro.


Publicado em 03/12/2020 02h11

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