O sinal genético dos antigos australianos na América do Sul vai mais fundo do que sabíamos

Reserva Nacional de Paracas, ao longo da costa peruana. (Vasil Daskalov / Getty Images)

A extensão da influência da Australásia nas antigas linhagens das primeiras culturas sul-americanas parece ser ainda maior do que os cientistas pensavam, de acordo com novas pesquisas.

Em 2015, um par de estudos científicos identificou uma ligação intrigante: evidências de genética indígena australiana, melanésia e do sul da Ásia incorporada em populações indígenas americanas modernas que vivem na Amazônia.

Como essa conexão misteriosa foi forjada entre povos que vivem em um globo à parte nunca foi totalmente compreendido ou acordado, embora se pense que os genes da Australásia fluíram para as Américas por meio de uma migração épica e terrestre através da Eurásia há cerca de 20.000 anos, na época dos antigos, agora a massa de terra submersa de Beringia ainda servia como uma ponte conveniente para o Alasca.

Cerca de 15.000 anos atrás, alguns dos trekkers haviam chegado até a América do Sul, onde os genes da Australásia ainda podem ser encontrados no sangue de grupos indígenas da Amazônia hoje.

Mas nem todos os que estavam na jornada se estabeleceram necessariamente na floresta tropical. Um novo estudo sugere que a contribuição da Australásia para o pool genético nativo americano da América do Sul foi mais ampla do que imaginamos.

Uma das marcas da influência da Australásia na América do Sul previamente identificadas é o que é conhecido como o sinal da ‘população Ypikuéra’ (sinal Y) – uma variante genética até agora vista apenas nas populações atuais da Amazônia.

Agora, no entanto, esse sinal foi visto fora da Amazônia pela primeira vez, com uma análise genômica de 383 indivíduos de vários grupos indígenas da América do Sul revelando que o sinal Y não existe apenas em grupos amazônicos – mas também nos indígenas. povos de Chotuna (que vivem perto da costa do Pacífico do Peru), Guaraní Kaiowá (centro-oeste do Brasil) e Xavánte (perto do centro do Brasil).

“Nossos resultados mostraram que o sinal genético da Australásia, anteriormente descrito como exclusivo de grupos amazônicos, também foi identificado na população costeira do Pacífico, apontando para uma distribuição mais ampla do sinal na América do Sul e possivelmente implicando um contato antigo entre os habitantes do Pacífico e da Amazônia, “Os pesquisadores, liderados pelo primeiro autor e biólogo evolucionista Marcos Araújo Castro e Silva, da Universidade de São Paulo (USP) no Brasil, explicam em seu estudo.

Além de sugerir que a assinatura genética da Australásia se espalhou dentro das populações nativas americanas da costa ao centro da América do Sul, as novas descobertas indicam que pelo menos duas ondas migratórias provavelmente ocorreram, com um ramo de pessoas com a variação Y se estabelecendo no Pacífico regiões costeiras, antes que outro grupo com a mesma ancestralidade australásia migrasse posteriormente para o leste, habitando a Amazônia e o Brasil central.

Quanto ao fato de o sinal Y não ter sido captado ao norte da América do Sul – mesmo que esses migrantes antigos devam ter passado por aquele território – é possível que, aderindo à rota costeira do Pacífico, a linhagem dos migrantes e a genética da Australásia componente que carregava, pode não ter se misturado completamente com as populações contemporâneas da América do Norte e Central.

Outra possibilidade, como disse a autora sênior e geneticista evolucionista da USP Tábita Hünemeier à Science, é que aqueles que carregam a variante Y na América do Norte e Central podem simplesmente não ter sobrevivido às violentas transições da colonização europeia.

Também pode ser que o sinal Y não tenha sido pesquisado amplamente o suficiente em populações localizadas mais ao norte. Como mostram essas descobertas em andamento, pode ser apenas uma questão de tempo e mais testes antes que mais dessas conexões antigas e surpreendentes se tornem conhecidas.


Publicado em 31/03/2021 10h10

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