Abordagem importantíssima de um PhD em Medicina sobre a Hidroxicloroquina. Devemos usá-la no início do tratamento.


Bruno Filardi, MD, PhD @mab_sp125 Oncology, MD-PhD. Physician and molecular immunopathology research

Vim pro twitter para entretenimento e observação. Não havia me manifestado até a crise do Covid-19. Porém faço questão de colocar aqui, de modo simplificado e resumido, o que sabemos cientificamente até agora voltado para não especialistas na área.

Normalmente, um vírus ao nos contaminar, desencadeia uma resposta imune organizada – inicialmente chamada inata e evolui para resposta imune adaptativa. Isso se dá em poucos dias ou semanas e nos cura da infeccção viral.

Para que isso aconteça, é necessária uma coordenação entre a célula infectada e as células de defesa. Através de complicadas interações intracelulares e intercelulares há liberações de muitas citocinas (“hormônios” que regulam as resposta imune) de forma organizada e gradual.

O coronavírus traz em seu material genético o código de algumas proteínas que, dentro da célula, interagem e atrapalham essa delicada e organizada liberação de citocinas necessárias para uma competente resolução da infecção.

Ele impede a formação de algumas citocinas (principalmente interferon). Com a contínua replicação viral e a não evolução da resposta imune para adaptativa, cria-se um ciclo vicioso e vai se acumulando uma grande quantidade de citocinas de modo desorganizado. Essa “tempestade de citocinas” leva, finalmente, a ativação das células de defesa (macrófagos) que começam a matar as células normais. Há também disfunção endotelial e formação de trombos (coágulos) em nosso sangue que vão obstruindo a microcirculação de todos nossos órgãos

Percebam então que a infecção por coronavírus leva a uma síndrome clínica imunológica de “ativação macrofágica” e coagulação intravascular disseminada (CIVD) levando ao óbito. Tudo consequente a desregulação imune causada pelas proteínas do vírus

O que temos de tratamento até agora? A hidroxicloroquina é um modulador imune. Dificulta a ação das proteínas virais na desregulação imune. O processo todo é extremamente complexo. Sendo assim, a cloroquina não é uma bala mágica que funciona em todas as situações.

Se o paciente já estiver na fase final da tempestade de citocinas ela terá pouco efeito. Mas tem sim seu valor principalmente no início do processo patológico. Temos também que anticoagular o paciente para impedir os efeitos deletérios dos trombos sanguineos.

Outro ponto chave no tratamento seria a inibição dos macrófagos ativados pela tempestade de citocina. Essas células destroem (pela fagocitose) nossas células sadias. Esse é um ponto crucial para os pacientes nas fases mais avançadas da doença.

Temos também a transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas (anti-corpos) e ainda em teste outras drogas bloqueadoras imunológicas. Em resumo: não há um tratamento definitivo. Porém já avançamos sim e os tratamentos descritos acima estão salvando muitas vidas.

Não mencionei a óbvia necessidade de suporte respiratório pois a falência pulmonar (local direto de infecção viral) é presente em todos os casos graves.

Excelentes equipes médicas no país fizeram protocolos de tratamento e algumas deverão em breve testar outras drogas já sabidamente imunomodulatórias que podem ser mais eficazes, inclusive, que a cloroquina.

Faço homenagem os meus colegas que estão na linha de frente nessa luta e às brilhantes equipes de imunologia e infectologia da USP de Ribeirão, em especial Prof. Paulo louzada, Prof. Benedito Fonseca, Prof Rene e Prof Sergio Luna. Abaixo protocolo de tratamento da USP-Ribeirão


Publicado em 05/04/2020 14h59

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