doi.org/10.1126/sciadv.adp5156
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#Oceanos
Pesquisas recentes mostram que a eficiência dos oceanos profundos em armazenar calor durante o último degelo foi muito maior do que é hoje, principalmente pelo aquecimento em profundidades intermediárias. Isso é bem diferente do que acontece agora, onde a maior parte do aquecimento se concentra perto da superfície.
Os oceanos são um dos maiores reservatórios de calor do nosso sistema climático, absorvendo mais de 90% da energia extra gerada pelo aquecimento provocado pelos seres humanos. Nos últimos 100 anos, o maior aquecimento aconteceu nos primeiros 500 metros dos oceanos, enquanto as águas mais profundas esquentaram muito menos, com uma eficiência de armazenamento de calor bem baixa, em torno de 0,1.
No entanto, observações de longo prazo sugerem que o aquecimento dos oceanos profundos pode, em períodos mais extensos, ser parecido ou até maior que o aquecimento das águas superficiais. Durante o último degelo, a eficiência de armazenamento de calor no oceano era cerca de dez vezes maior do que é agora. Isso levanta a questão: quais processos permitem que os oceanos absorvam e guardem calor, e até que ponto essa eficiência pode chegar”
Novo Estudo sobre o Aquecimento Oceânico no Degelo
Recentemente, uma equipe internacional de cientistas dos Estados Unidos e da China publicou um estudo na *Science Advances* que ajuda a entender melhor esse assunto. Eles combinaram simulações de ponta sobre o período do degelo com reconstruções baseadas em dados, conseguindo mapear as mudanças de temperatura em três dimensões no oceano daquele período. Descobriram que a eficiência de armazenamento de calor durante o degelo era bem maior, ultrapassando o valor de 1, principalmente pelo forte aquecimento em profundidades intermediárias, em resposta às mudanças que estavam ocorrendo na época.
“Nossas simulações e reconstruções mostram que o aquecimento dos oceanos durante o último degelo foi bem desigual, com o maior aquecimento acontecendo em profundidades intermediárias, o que contrasta bastante com as observações de atualmente,” explicou Dr. Chenyu Zhu, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Ciências Atmosféricas da Academia Chinesa de Ciências.
Mecanismos por Trás do Aquecimento em Profundidades Intermediárias
Por meio de experimentos de sensibilidade, o estudo mostrou que esse grande aquecimento das águas em profundidades intermediárias pode estar ligado ao aquecimento da superfície em latitudes médias e subpolares, além de mudanças na circulação oceânica devido ao derretimento de gelo. “Essa estrutura única de aquecimento oceânico permite uma grande eficiência no armazenamento de calor. Isso ajuda a resolver o paradoxo da visão antiga de que o aquecimento ocorria em áreas de formação de águas profundas, que ficavam cobertas de gelo marinho”, explicou o Prof. Zhengyu Liu, da Universidade Estadual de Ohio, um dos autores do estudo.
“Esses resultados têm implicações importantes. Por exemplo, se um aquecimento forte na superfície e uma ventilação forte acontecem juntos, como nas nossas simulações, o oceano pode absorver mais calor da atmosfera, possivelmente reduzindo a velocidade do aquecimento atmosférico,” comentou o Prof. Peter U. Clark, coautor do estudo da Universidade Estadual de Oregon.
O estudo destaca o papel crucial dos padrões de aquecimento na superfície e das mudanças na circulação oceânica para o armazenamento de calor a longo prazo nos oceanos. Sugere também que “o oceano pode funcionar como um reservatório de energia muito maior para o sistema climático do que as observações atuais indicam”, de acordo com os pesquisadores.
Publicado em 29/10/2024 19h14
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