Cérebro em chamas – A Doença misteriosa que imita problemas mentais

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doi.org/10.1038/s41594-024-01386-4
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Pesquisas revelam como anticorpos afetam receptores no cérebro de pacientes com encefalite anti-NMDAR, uma doença frequentemente confundida com esquizofrenia.

Essa condição, descrita no livro “Cérebro em Chamas”, de Susannah Cahalan, pode causar sintomas neurológicos graves parecidos com problemas mentais. O estudo destaca a importância de diagnósticos precisos e tratamentos personalizados para lidar corretamente com essa doença rara.

O Diagnóstico Surpreendente de Susannah Cahalan:

Imagine acordar em um hospital sem lembrar do último mês. Os médicos dizem que você teve surtos violentos e crises de paranoia. Você até acreditava estar com transtorno bipolar. Mas, após um teste específico, um neurologista traz o diagnóstico surpreendente: uma doença autoimune rara chamada encefalite anti-NMDAR. Essa foi a experiência de Susannah Cahalan, uma jornalista do New York Post, que relatou tudo no livro de sucesso *Cérebro em Chamas: Meu Mês de Loucura*.

De acordo com o professor Hiro Furukawa, do Laboratório de Cold Spring Harbor, a encefalite anti-NMDAR pode causar alucinações, perda de memória e psicose, principalmente em mulheres entre 25 e 35 anos – a mesma idade em que a esquizofrenia costuma aparecer. No entanto, a encefalite anti-NMDAR acontece por um mecanismo diferente.

O laboratório Furukawa do Cold Spring Harbor Laboratory está estudando uma doença autoimune chamada encefalite anti-NMDAR, em colaboração com a equipe do professor Christian Geis na Universidade de Jena e na unidade de pesquisa doYNABS na Alemanha.Aqui, vemos anticorpos de um paciente humano com encefalite anti-NMDAR (roxo) ligando-se a NMDARs (verde) no cérebro de um camundongo.As áreas marcadas em vermelho indicam altos níveis de ligação de anticorpos.Além disso, o impacto desses anticorpos sobre a memória poderá ser avaliado com o uso de um novo sistema estabelecido em colaboração entre a Furukawa e colegas do Instituto de Neurociência da Flórida.

Compreendendo a Encefalite Anti-NMDAR

Furukawa, especialista em receptores NMDAR, explica que esses receptores no cérebro são importantes para a memória e o raciocínio. Na encefalite anti-NMDAR, os anticorpos atacam esses receptores, impedindo seu funcionamento correto e gerando uma resposta autoimune que causa inflamação no cérebro – daí o termo “Cérebro em Chamas”.

Embora existam tratamentos, sua eficácia varia conforme a gravidade dos sintomas. Uma nova pesquisa do laboratório de Furukawa ajuda a entender o porquê. Recentemente, Furukawa e sua equipe mapearam como anticorpos de três pacientes se ligam aos NMDARs e descobriram que cada anticorpo se liga aos receptores de forma diferente. Isso ajuda a entender melhor a encefalite anti-NMDAR, identificada pela primeira vez em 2008, e sugere que tratamentos personalizados podem ser essenciais para essa doença.

Impactos para Diagnóstico e Inovações no Tratamento:

“Padrões diferentes de ligação se traduzem em variações nos níveis de funcionamento dos NMDARs,? explica Furukawa. “Isso afeta as atividades dos neurônios. Ou seja, locais de ligação diferentes podem estar ligados a sintomas variados em pacientes.” Descobrir essas correlações pode levar a tratamentos mais precisos. Por exemplo, se cientistas identificarem áreas comuns entre pacientes com encefalite, poderiam criar novos medicamentos específicos para esses locais. Além disso, a medicina personalizada poderia ajudar a melhorar o diagnóstico, destaca Furukawa.

“Ainda é uma doença rara, mas pode ser mal diagnosticada ou subdiagnosticada. Precisamos aumentar a conscientização. Será que, por exemplo, alguns pacientes diagnosticados com esquizofrenia têm essa doença? Pode ser causada por anticorpos””

Linha superior: imagens EM de IgG antibody binding to an NMDAR de um paciente. Linha inferior: uma representação gráfica 3-D do padrão de ligação. Crédito: Furukawa lab/Cold Spring Harbor Laboratory

Implicações Maiores para a Psiquiatria

Hoje, acredita-se que a encefalite anti-NMDAR afeta uma pessoa em cada 1,5 milhão. Mas, no futuro, talvez seja mais comum do que imaginamos. Isso pode parecer assustador, mas também pode explicar por que alguns medicamentos psiquiátricos não funcionam para pacientes diagnosticados com transtorno bipolar ou outros problemas mentais – uma revelação importante para esses pacientes, suas famílias e os profissionais que cuidam deles.


Publicado em 29/10/2024 08h45


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