Em 22 de fevereiro de 1498, Cristóvão Colombo, então com cerca de 40 e poucos anos, registrou em um documento que sua propriedade na cidade portuária italiana de Gênova deveria ser mantida para sua família, afirmando que “de lá eu vim e lá nasci”.
Embora a maioria dos historiadores veja esse documento como uma prova clara de que Colombo nasceu em Gênova, alguns questionam sua autenticidade e acreditam que pode haver mais sendo descoberto.
Agora, uma investigação de décadas, liderada pelo cientista forense José Antonio Lorente, da Universidade de Granada, na Espanha, sugere que Colombo pode não ser de origem italiana, mas sim espanhol, com ascendência judaica.
Essa revelação foi feita durante um programa especial transmitido na Espanha, em comemoração à chegada de Colombo ao Novo Mundo, em 12 de outubro de 1492.
Contudo, é importante ter cautela com informações divulgadas pela mídia, especialmente quando não há uma publicação revisada por especialistas para ser analisada criticamente. “Infelizmente, do ponto de vista científico, não podemos realmente avaliar o que foi mostrado no documentário, porque eles não apresentaram dados da análise”, disse Antonio Alonso, ex-diretor do Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses da Espanha, em entrevista ao El País.
Apesar dessas críticas, o uso de análises forenses em registros biológicos tem desafiado e, ao mesmo tempo, confirmado muitos documentos históricos. Isso levanta a possibilidade de que o DNA de Colombo possa revelar informações sobre sua verdadeira origem familiar.
De acordo com registros escritos quando ele já era adulto, Colombo – cujo nome original era Cristoforo Columbo – nasceu entre o final de agosto e o final de outubro de 1451, em Gênova, a capital da região italiana da Ligúria. Na juventude, ele se mudou para Lisboa, em Portugal, em busca de patrocinadores para financiar sua ousada tentativa de chegar ao Oriente navegando na direção oposta.
Embora a maioria dos historiadores aceite que os documentos da corte que apontam Gênova como seu local de nascimento sejam confiáveis, teorias alternativas sobre suas origens existem há décadas. Uma dessas teorias sugere que Colombo era, na verdade, um judeu espanhol que viveu em segredo, em um período marcado pela perseguição religiosa e limpeza étnica. Defensores dessa ideia citam peculiaridades em seu testamento e nas palavras que usava em suas cartas.
Agora, parece que seus próprios genes podem trazer uma nova evidência. Segundo Lorente e sua equipe, a análise do DNA mitocondrial e do cromossomo Y, retirado dos restos mortais de seu filho Fernando e de seu irmão Diego, indica uma possível origem espanhola ou judaico-sefardita.
Isso não descarta completamente Gênova como seu local de nascimento, nem confirma um ponto específico na Europa. Vale lembrar que muitos judeus expulsos da Espanha no final do século XV, na época em que Colombo realizava sua histórica viagem, buscaram refúgio em cidades italianas como Gênova, embora poucos tenham conseguido asilo.
Se os resultados de Lorente forem aceitos, a ideia de que Colombo era genuinamente italiano pode ser contestada, levando a questionamentos sobre como uma pessoa de origem judaico-sefardita poderia ter nascido em Gênova na década de 1450.
Para que essas descobertas sejam amplamente aceitas, os resultados precisam ser cuidadosamente examinados e, de preferência, replicados com detalhes. Mesmo assim, a história de uma pessoa vai além de sua genética – ainda restam questões sobre como alguém de uma minoria perseguida se tornou o representante da expansão espanhola.
Por enquanto, a história de Colombo permanece como a de um marinheiro italiano que chamou a atenção da realeza espanhola, tornando-se ao mesmo tempo celebrado e criticado pelo impacto que deixou na história, longe daquela “nobre e poderosa cidade à beira-mar” que chamava de lar, Gênova.
Publicado em 19/10/2024 11h23
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