doi.org/10.1016/j.funeco.2024.101387
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#Fungos
Os fungos são seres vivos fascinantes que desafiam nossas ideias convencionais sobre inteligência. Embora não possuam cérebros, mostram sinais claros de tomada de decisão e comunicação.
Para explorar o quão complexos são esses organismos e o que podem nos ensinar sobre outras formas de consciência, pesquisadores da Universidade Tohoku e do Colégio Nagaoka, no Japão, realizaram um experimento com o fungo Phanerochaete velutina, conhecido por formar redes de filamentos chamados micélio. Segundo o estudo publicado na *Fungal Ecology*, os resultados indicam que os fungos podem “reconhecer” diferentes arranjos espaciais de madeira e adaptar seu crescimento para explorar melhor o ambiente.
Embora muitas pessoas associem os fungos apenas aos cogumelos visíveis acima do solo, essas estruturas são apenas a parte externa de um vasto e complexo sistema de filamentos subterrâneos chamado micélio. Essas redes interconectadas são capazes de transmitir informações ambientais por toda a extensão do sistema, que pode se espalhar por quilômetros. O crescimento do micélio não ocorre de forma aleatória em todas as direções; parece ser um esforço calculado.
Para demonstrar essa capacidade, os pesquisadores montaram dois ambientes de 24 cm de largura com terra e embebedaram blocos de madeira em decomposição por 42 dias em uma solução com esporos de P. velutina. Em seguida, colocaram os blocos em um arranjo circular ou em forma de cruz dentro do recipiente e deixaram os fungos crescerem por 116 dias. Se o P. velutina se expandisse de forma aleatória, isso indicaria uma ausência de tomada de decisão básica – mas não foi o que aconteceu.
Nos primeiros 13 dias, o micélio cresceu ao redor de cada bloco de madeira sem se conectar aos demais. Um mês depois, tanto no arranjo circular quanto no em forma de cruz, surgiram redes de fungos muito emaranhadas entre os blocos. No entanto, algo notável ocorreu – no dia 116, cada rede fúngica havia se organizado em caminhos mais definidos e deliberados. No arranjo circular, o P. velutina mostrou uma conectividade uniforme ao redor do círculo, mas praticamente não cresceu para o interior do anel. No cenário em cruz, os fungos se estenderam bem mais a partir dos quatro blocos externos.
Os pesquisadores teorizaram que, no ambiente circular, a rede micelial determinou que não valia a pena gastar energia em uma área já ocupada. No caso do arranjo em cruz, os quatro blocos externos podem ter funcionado como “postos avançados” para explorar e buscar nutrientes. Os resultados dos dois testes sugerem que, mesmo sem cérebro, esses organismos podem “comunicar-se” e adaptar seu crescimento de acordo com as condições ambientais.
“Você ficaria surpreso com o que os fungos são capazes de fazer. Eles têm memórias, aprendem e podem tomar decisões”, afirmou Yu Fukasawa, coautor do estudo na Universidade Tohoku, em um comunicado no dia 8 de outubro. “Sinceramente, as diferenças em como eles resolvem problemas em comparação com os humanos são impressionantes.”
Embora ainda haja muito sendo compreendido sobre esses organismos frequentemente negligenciados, os pesquisadores acreditam que experimentos contínuos podem levar a uma melhor compreensão da história evolutiva da consciência e até mesmo abrir caminho para o desenvolvimento de computadores avançados baseados em biologia.
Publicado em 19/10/2024 07h23
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