Cientistas descobrem disfunções cerebrais associadas às vozes na esquizofrenia

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doi.org/10.1371/journal.pbio.3002836
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#Esquizofrenia 

Um novo estudo identificou falhas na atividade cerebral de pessoas com esquizofrenia que ouvem vozes, revelando como uma combinação de funções cerebrais pode desencadear essas alucinações auditivas.

Pesquisadores na China observaram que há uma dificuldade em preparar os sentidos para reconhecer palavras que vão ser ditas, e esse fator sozinho já causa impactos. Além disso, em pacientes que têm essas alucinações auditivas, há um aumento nos sinais que amplificam “ruídos internos? do cérebro, ou seja, atividades mentais internas que normalmente são ignoradas pelo cérebro. Essa combinação de fatores parece resultar na confusão entre o que é imaginado e o que é real.

“Pessoas que sofrem de alucinações auditivas “ouvem? sons sem nenhum estímulo externo”, explica a equipe. “Conexões prejudicadas entre sistemas motores e auditivos no cérebro levam à perda da habilidade de diferenciar a fantasia da realidade.”

No estudo, a equipe, liderada pelo neurocientista Fuyin Yang da Universidade de Medicina de Shanghai Jiao Tong, analisou os cérebros de 20 pacientes diagnosticados com esquizofrenia que ouviam vozes e os comparou com outros 20 pacientes também com esquizofrenia, mas sem alucinações auditivas. Todos os pacientes estavam estáveis e faziam uso de medicamentos antipsicóticos. Os dados foram ainda comparados com um grupo controle de pessoas sem esquizofrenia.

Como os diferentes grupos de cérebros dos pacientes experimentam sinais motores para sensoriais, com cinza representando a ausência de um sinal. (Yang et al., PLOS Biology, 2024)

Ao analisar a atividade cerebral usando eletroencefalogramas, foi observada uma diferença significativa entre os grupos. Nos pacientes com esquizofrenia, houve uma redução na atividade que permite ao cérebro prever o som da própria voz antes de falar, uma função chamada “descarga corolária”. Normalmente, essa função ajuda nossos sentidos a reconhecer sons como produzidos internamente, evitando que sejam tratados como ruídos externos. Esse padrão também foi confirmado em modelos animais de esquizofrenia.

Porém, apenas os pacientes que ouviam vozes apresentaram uma hiperatividade na “cópia de eferência”, um sinal motor que diz ao corpo para falar e que, nesses casos, se manifesta como uma representação interna auditiva. Em pessoas saudáveis e em pacientes com esquizofrenia que não têm alucinações auditivas, esse sinal se intensifica apenas próximo ao momento em que algo vai ser dito. Já em pacientes que escutam vozes, essa intensificação ocorre de forma generalizada, aumentando o “ruído interno? cerebral.

Assim, as alucinações auditivas parecem surgir quando essa descarga corolária se torna desregulada, interpretando erroneamente as atividades neurais, levando algumas pessoas a confundirem sons internos com sons externos.

Esse novo entendimento pode abrir caminho para tratamentos mais eficazes no futuro, com uma abordagem mais direcionada às disfunções específicas dessas atividades cerebrais.


Publicado em 04/10/2024 18h37

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