Oito anos depois: revelando a devastação não resolvida do pior desastre ambiental do Brasil

Peixes mortos em Marliéria, Minas Gerais, Brasil, cerca de 200 km a jusante da barragem de rejeitos de Fundão. Crédito: Elvira Nascimento

doi.org/10.3897/natureconservation.56.133441
Credibilidade: 989
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Um estudo relata impactos severos contínuos oito anos após o rompimento da barragem de Fundão, no Brasil, criticando os lentos esforços de recuperação e destacando os riscos de outras barragens inseguras

Oito anos após o rompimento da barragem de rejeitos Fundão em Mariana, Minas Gerais, Brasil, pesquisadores continuam a enfatizar a devastação ambiental e social contínua resultante do desastre.

Um artigo publicado no periódico de acesso aberto Nature Conservation destaca os impactos persistentes e crescentes do rompimento, que é classificado como uma das tragédias ambientais mais significativas do mundo.

Causado pela mineradora Samarco, o rompimento de 2015 liberou aproximadamente 50 milhões de metros cúbicos de lama tóxica, enterrando a vila de Bento Rodrigues e contaminando gravemente mais de 600 quilômetros de canais de rios e habitats costeiros. Mais de 1 milhão de pessoas em 35 cidades foram afetadas, levando a 19 mortes, problemas de saúde generalizados e o deslocamento de centenas de moradores.

Pesquisadores revelam que os danos ambientais só se intensificaram ao longo dos anos. Altos níveis de metais pesados “continuam a ameaçar a saúde humana e da vida selvagem, com bioacumulação significativa observada em espécies ameaçadas como o golfinho Franciscana. Além disso, a introdução de espécies invasoras desestabilizou ainda mais o ecossistema.

Esforços de resposta e recuperação:

O artigo, liderado pelo Dr. Cássio Cardoso Pereira e Fernando Goulart da Universidade Federal de Minas Gerais, critica a resposta lenta e controversa da Fundação Renova, uma entidade criada pelas empresas responsáveis “”para lidar com as consequências do desastre. Embora alguns esforços de compensação e restauração tenham sido feitos, os pesquisadores argumentam que essas ações são insuficientes e muitas vezes inadequadas.

Uma das descobertas mais preocupantes é o risco contínuo representado por estruturas semelhantes em todo o Brasil, onde centenas de barragens permanecem em más condições. O estudo defende a substituição dessas barragens perigosas por alternativas mais seguras, como mineração a seco, o que reduz significativamente o risco de colapsos futuros.

“Políticas públicas urgentes e baseadas na ciência são necessárias para priorizar a restauração da bacia do Rio Doce, além de uma compensação abrangente para as comunidades afetadas. Para atingir isso, precisamos de colaborações envolvendo supervisão local e governamental e expertise científica independente para evitar mais desastres ecológicos e humanos”, diz o Dr. Cássio Cardoso Pereira.

À medida que a região continua enfrentando os efeitos compostos das mudanças climáticas, com o aumento de ciclones e chuvas pesadas piorando a disseminação de poluentes, o artigo nos lembra que o legado do desastre do Fundo está longe de acabar.


Publicado em 30/08/2024 17h07

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