11 de outubro de 2000: A Noite dos Tornados no RS

Em 11 de outubro de 2000, algo entre 8 e 20 tornados varreram o RS em diversas regiões

#Tornado 

Não há na memória histórica do estado do Rio Grande do Sul uma noite de tantas e devastadoras tempestades como a do dia 11 de outubro do ano 2000. Em poucas horas diversos tornados tocaram terra em uma dezena de cidades gaúchas. O resultado foi catastrófico e o saldo de perdas humanas elevado. Pedras gigantes de granizo, funis de vento e precipitações torrenciais deixaram um rastro de destruição e levaram comunidades inteiras ao desespero. Da capital ao noroeste gaúcho. Do centro do estado ao litoral norte. O 11 de outubro ficou marcado pela noite dos tornados.

Tornado em Águas Claras

Passavam das dez e meia da noite quando um tornado F3 com vento entre 200 e 300 km/h varreu a pequena comunidade de Águas Claras no interior da cidade de Viamão na Grande Porto Alegre. Carros foram virados, milhares de árvores foram decepadas como se tivesse sido cortadas por gigantescas facas, piscinas de fibra foram arremessadas a centenas de metros de distância e muitas casas e prédios simplesmente desapareceram. Mais de duzentas pessoas ficaram feridas. A costureira Evânia do Amaral Moraes, de 57 anos, não resistiu. Foi sugada pelo tornado e o seu corpo acabou encontrado por familiares a mais de cem metros de sua residência.

Temporal em várias regiões do Estado

O tornado de Águas Claras foi antecedido por um intensa chuva de granizo com pedras maiores do que um ovo de galinha. Na rodovia RS-040 que liga Porto Alegre ao litoral norte do estado gaúcho, motoristas tiveram os pára-brisas dos automóveis destruídos pelas pedras gigantes de gelo. Desnorteados e com sangue no rosto devido aos ferimentos provocados pelos pedaços de vidro e o granizo gigante, motoristas caminhavam pela estrada à espera de ajuda. ‘Nunca vi nada parecido e nem quero ver’, disse o pedreiro Cláudio Gil Pereira depois de presenciar, com a família, o desabamento de sua casa na RS-040. ‘Parecia que o mundo iria cair’, afirmou Leonel Mcarthy, que também teve a casa destruída. Maria Machado Goulart, relatou ter visto uma casa de madeira voando.

Prefeitos de sete municípios gaúchos – Colorado, Três Coroas, Tramandaí, Viamão, Selbach, Candelária e Pejuçara – decretaram situação de emergência em virtude dos estragos causados pelo temporal de chuva, vento e granizo. Pelo menos sete pessoas morreram em Teutônia, Pejuçara e Viamão e Caxias do Sul. O transbordamento do Rio Paranhana atingiu quinhentas casas em Três Coroas e deixou 2,3 mil desabrigados. Parobé e Igrejinha também tiveram prejuízos. Em Caxias do Sul, a BR-116 ficou com o trânsito interrompido no distrito de Vila Cristina, onde um homem morreu levado pelas águas do Rio Caí. Alagamentos de ruas, casas e queda de barreiras com risco às residências foram os problemas mais graves registrados na maior cidade da Serra. Caxias do Sul teve a maior precipitação em dez anos com 105 milímetros em menos de doze horas.

Em alguns locais as pedras de granizo chegavam a pesar 1kg

Granizo de 1kg

O município de Selbach, no norte do Estado, teve a maioria das residências atingidas pelo granizo. Segundo os moradores, as pedras de gelo chegavam a pesar de oitocentos gramas até um quilo. Centenas de prédios foram destelhados pelo temporal de granizo na cidade de Pejuçara, região de Cruz Alta. As pedras de gelo que segundo moradores eram do tamanho de uma laranja causaram estragos em creches, escolas e no parque de exposições. Um agricultor morreu ao tentar consertar o telhado de sua residência. O temporal durou menos de cinco minutos, mas foi suficiente para destruir 70% dos telhados existentes no município. O hospital da cidade teve alagamentos, e os doentes internados tiveram que ser removidos para outras alas e até para residências próximas.

De Porto Alegre a Tramandaí

A linha de tempestades ia de Porto Alegre ao litoral

As células de tempestade com tornados que atingiram Viamão varreram o leste do estado da zona sul de Porto Alegre até o litoral norte gaúcho. Tramandaí decretou estado de calamidade pública depois que o granizo destelhou centenas de casas.

Aeroclube também foi atingido por um tornado

Aeroclube também foi atingido por tornado

Na zona sul da capital gaúcha, pelo menos oito bairros ficaram parcialmente sem energia elétrica. Na Estrada do Lami, sete postes de energia elétrica e telefonia e mais três árvores caíram, interrompendo o trânsito. Em Belém Novo houve um tornado que provocou prejuízos de novecentos mil dólares na Escola de Aeronáutica Civil do Aeroclube do Rio Grande do Sul. O tornado destruiu dois helicópteros e oito aeronaves. Outros sete aviões sofreram danos menores. As portas e telhas dos hangares 1 e 2 foram arrancadas, causando danos estruturais. O vento ultrapassou 200 km/h nesta na área de Belém Novo, uma vez que os hangares foram construídos para suportar rajadas de vento de até 150 km/h.

As áreas de instabilidade que provocaram as fortes tempestades avançaram do noroeste gaúcho em direção às regiões da Serra e da Grande Porto Alegre. A circulação de umidade trazida pelo vento leste colaborou para aumentar a instabilidade, uma vez que já havia chovido durante o dia. O tornado resultou de um aglomerado de nuvens carregadas, reativado pela circulação de ar frio sobre o Uruguai e o Atlântico. A queda brusca da pressão atmosférica aumentou a turbulência, esclareceu à época o Diretor-Geral da MetSul Meteorologia Hackbart.


Publicado em 27/05/2024 18h35

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