Apenas 20 minutos de exercício por dia durante a gravidez podem reduzir o risco de obesidade infantil e diabetes

De acordo com as descobertas dos pesquisadores, existe uma ligação entre fazer pelo menos 150 minutos de exercício físico por semana e menor peso ao nascer, o que reduz o risco de obesidade infantil e diabetes. Imagem via Unsplash

O estudo encontrou uma ligação entre pelo menos 150 minutos de atividade física por semana e menor peso ao nascer, com menor risco de obesidade infantil e diabetes

Um estudo brasileiro corrobora os benefícios e a segurança do exercício físico durante a gravidez, mesmo para aquelas que são socialmente vulneráveis. Pesquisadores descobriram que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de pelo menos 150 minutos de exercícios por semana foi associada à diminuição do peso do bebê ao nascer, o que é benéfico na prevenção da obesidade infantil e diabetes, sem aumentar o risco de o bebê nascer com menos peso do que seria esperado com base na idade gestacional.

Os resultados foram publicados recentemente na revista PLoS ONE. Pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) realizaram o estudo como parte do projeto “Saúde Materno-Infantil no Acre: Coorte de Nascimentos na Amazônia Ocidental Brasileira (MINA Brasil)”, que tem está em andamento desde 2015 com financiamento da FAPESP.

“Estudos anteriores investigaram como a atividade física no lazer durante a gravidez afeta o peso ao nascer e outros resultados, mas havia falta de pesquisas prospectivas sobre o tema em países de baixa e média renda”, disse Marly Augusto Cardoso, professora do Departamento de Nutrição. Departamento da FSP-USP e pesquisador principal do projeto.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo analisaram dados de um grupo de gestantes da Amazônia ocidental. Crédito: MINA Brasil

Cardoso afirma que as disparidades raciais podem afetar os resultados. Em contraste com pesquisas anteriores, quase 80% dos indivíduos nesta se classificaram como algo diferente de brancos. Além disso, algumas características de áreas desfavorecidas podem ter um papel. Por exemplo, em nações ricas, a preocupação com o peso do recém-nascido se concentra apenas em bebês com excesso de peso, o que é apenas um extremo, mas em áreas de baixa renda, a desnutrição materno-infantil é a principal preocupação e pode contribuir para o baixo peso ao nascer. Além disso, as mulheres em áreas subdesenvolvidas muitas vezes se envolvem em maior atividade física no trabalho ou em casa. “Nesse contexto, a atividade física no lazer aumenta a proporção de bebês pequenos para a idade gestacional?” Cardoso questionou.

Ela continuou explicando que a amostra da pesquisa do MINA Brasil apresentou os dois extremos, sendo tanto baixo peso quanto sobrepeso ao nascer. Conforme declarado no artigo, esta é a primeira pesquisa prospectiva a analisar o impacto do exercício físico no lazer no peso ao nascer em um país de renda média com maioria de mulheres não brancas.

Coleção de dados

A população estudada pelo grupo FSP-USP vive em Cruzeiro do Sul, que tem cerca de 88 mil habitantes e fica no estado do Acre. As gestantes do município foram acompanhadas entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2016, e os bebês nascidos delas também foram avaliados com o consentimento de suas famílias. Os participantes foram examinados e responderam a questionários sobre diversos tópicos, desde estilo de vida, nutrição infantil e microbiota intestinal até infecção por malária. “Queremos abordar diferentes questões com esta coorte”, disse Cardoso.

Para este artigo especificamente, os pesquisadores se concentraram em dados sobre atividade física no lazer para 500 voluntários abrangidos pelo projeto. As mulheres relataram a quantidade de atividade realizada no segundo e terceiro trimestres de gestação e foram então pesadas e categorizadas de acordo com se atingiram o mínimo recomendado de 150 minutos de exercício por semana. Os bebês foram pesados ao nascer.

O mínimo recomendado de atividade de lazer foi realizado por apenas 7,3% das mulheres no primeiro trimestre e 9,5% no segundo. Antes da gravidez, a proporção era de 42%. ?Infelizmente, isso não é peculiar ao Cruzeiro do Sul. Ainda hoje muitos médicos recomendam repouso durante a gravidez, principalmente no primeiro trimestre?, disse Maíra Malta, primeira autora do artigo. Malta é professora do programa de pós-graduação em saúde coletiva da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS) no estado de São Paulo. “No entanto, temos evidências fortes e sólidas dos benefícios da atividade física de lazer durante a gravidez para a mãe e o bebê.”

O hábito de realizar pelo menos 150 minutos de atividade física por semana no terceiro trimestre de gestação correlacionou-se com uma redução média de 137,9 g no peso ao nascer. No entanto, a proporção de bebês de baixo peso nascidos dessas mulheres não aumentou como resultado. “Isso pode significar que a atividade física reduz o risco de excesso de peso ao nascer sem levar ao extremo oposto”, supôs Malta.

O artigo também conclui que esse efeito foi parcialmente mediado pelo ganho excessivo de peso das mães durante a gravidez. Ou seja, o resultado obtido provavelmente se deve, em certa medida, ao fato de que o exercício ajuda a evitar que as gestantes fiquem com sobrepeso ou obesidade. Como as mulheres que engordam mais durante a gravidez tendem a dar à luz bebês maiores, o manejo adequado do peso materno por meio de atividade física pode explicar parte – mas não a totalidade – da redução do peso ao nascer dos bebês.

“Foi um pequeno efeito mediador”, explicou Malta. Pesquisas anteriores mostraram que a correlação permaneceu significativa após o ajuste para o índice de massa corporal (IMC) materno, sugerindo que o efeito da atividade física sobre o peso ao nascer é apenas parcialmente mediado pelo peso materno.

Os achados foram diferentes para as mulheres que realizaram a quantidade recomendada de atividade física de lazer durante o segundo trimestre de gravidez. “Nosso estudo ressalta a necessidade de os profissionais de saúde orientarem as gestantes a se exercitarem, principalmente se apresentarem tendência a engordar durante o período”, disse Cardoso. “É claro que uma avaliação obstétrica pré-natal é essencial, pois o repouso é necessário em alguns casos, mas devemos reduzir a proporção de gestantes sedentárias.”

Limitações e planos futuros

O MINA Brasil faz parte de uma colaboração internacional chamada The Gestational Weight Gain (GWG) Pooling Project Consortium, que é apoiada pela Fundação Bill & Melinda Gates. Ele investiga o impacto do GWG na saúde materna e infantil em países de baixa e média renda.

Poucas gestantes da coorte realizavam os 150 minutos de atividade física recomendados por semana, portanto não foi possível avaliar o efeito do exercício no peso ao nascer ou outros desfechos. Pela mesma razão, os pesquisadores também não conseguiram descobrir exatamente como o tempo dedicado à atividade física se correlaciona com seus benefícios.

Além disso, a amostra do estudo não incluiu gestantes residentes na zona rural, que poderiam apresentar outras peculiaridades. Pesquisas futuras devem ser conduzidas nessas direções, dizem os pesquisadores no artigo. Eles continuarão a acompanhar essas mulheres e seus filhos para medir os efeitos a médio e longo prazo da atividade física. Paralelamente, o projeto investigará diferentes aspectos da saúde e do estilo de vida, como a exposição recorrente à malária, que estudos anteriores mostraram aumentar o risco de anemia nos primeiros anos do bebê.


Publicado em 13/07/2022 09h46

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