Essas duas órbitas que vemos no céu durante o dia e a noite têm ainda mais influência sobre os animais e plantas da Terra do que você pode imaginar.
A atração gravitacional do Sol e da Lua realmente parece afetar a atividade da flora e da fauna, embora os mecanismos exatos pelos quais isso acontece permaneçam obscuros, sugerem novas pesquisas.
A partir de uma meta-análise de estudos anteriores, os pesquisadores sugerem que as marés gravitacionais podem mudar a maneira como os animais e as plantas dormem, se movem e crescem – mesmo quando outros gatilhos (como os ciclos noturnos e diurnos) são desconsiderados.
Embora as marés gravitacionais do Sol e da Lua possam ser comparativamente fracas – apenas um milionésimo da atração da gravidade da Terra quando combinadas – a pesquisa mostra que essas marés ainda são uma consideração importante quando se avalia o comportamento dos organismos.
“Toda matéria da Terra, viva e inerte, experimenta os efeitos das forças gravitacionais do Sol e da Lua expressas na forma de marés”, disse à Agência FAPESP o biofísico Cristiano de Mello Gallep, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
“As oscilações periódicas exibem dois ciclos diários e são moduladas mensal e anualmente pelos movimentos desses dois corpos celestes. Todos os organismos do planeta evoluíram neste contexto.”
A equipe analisou três estudos anteriores em particular, onde informações sobre a maré gravitacional estavam disponíveis. Em um estudo de 1965 de isópodes (pequenos crustáceos sem concha), observou-se que os padrões de natação das criaturas mantiveram o fluxo das marés gravitacionais do oceano (ciclos de cerca de 12,4 horas), mesmo quando eles foram movidos para a água no laboratório com uma maré artificial.
Outra fonte foi um estudo de 1985 envolvendo coral, onde o crescimento do coral e a produção de larvas foram mostrados para coincidir com as marés gravitacionais locais sob a influência do Sol e da Lua.
Finalmente, um estudo de 2014 que examinou a germinação de sementes em girassóis – apoiado por novos experimentos executados pelos autores da meta-análise – mais uma vez encontrou evidências de que a germinação estava em sintonia com os padrões gravitacionais lunares e solares. Vários outros estudos anteriores também foram referidos pelos pesquisadores.
“Os dados mostram que, na ausência de outras influências rítmicas, como iluminação ou temperatura, as marés gravitacionais locais são suficientes para organizar o comportamento cíclico desses organismos”, diz Gallep.
“Essa evidência questiona a validade dos chamados experimentos de corrida livre, nos quais vários fatores ambientais são controlados, mas as oscilações gravitacionais não são levadas em consideração. Essas oscilações continuam existindo e podem modular o comportamento dos organismos vivos.”
No caso dos isópodes, por exemplo, os organismos foram observados seguindo padrões de natação que correspondiam às marés gravitacionais do ambiente de onde foram retirados, mesmo vários dias depois de serem transportados para o laboratório.
A influência dessas marés em animais e plantas tem sido escrita há muitos anos em estudos científicos, mas o objetivo do novo metaestudo era chamar a atenção para sua difusão e a necessidade de considerá-la mais amplamente em projetos de pesquisa.
Sabemos que o Grande Colisor de Hádrons precisa ser ajustado leve, mas repetidamente, para levar em consideração essas marés gravitacionais, e que essas forças sutis também podem influenciar os ciclos do sono humano – especialmente quando não temos consciência do dia e da noite.
“O que procuramos mostrar no artigo é que as marés gravitacionais são uma força perceptível e potente que sempre moldou as atividades rítmicas desses organismos”, diz Gallep.
Publicado em 06/01/2022 23h13
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