Onda de frio pode ser uma das mais intensas neste século no Brasil

Erupção de ar polar da próxima semana será muito intensa e alcançará extensa área do Brasil pela projeção do modelo canadense | MetSul

Massa de ar frio de origem polar de grande intensidade vai invadir o Brasil na próxima semana e tem potencial para ser uma das mais intensas deste século a alcançar o território nacional sob um cenário de clima propício a eventos de frio extremo, Modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia vem indicando de forma sistemática que será uma erupção de ar gelado muito intensa, mais forte que a de junho e a desta semana, e em alguns momentos chegam a sinalizar uma onda polar de excepcional força com magnitude raramente vista na história recente.

Erupção de ar polar da próxima semana será muito intensa e alcançará extensa área do Brasil pela projeção do modelo canadense | MetSul

Modelos indicam que haveria um reforço de ar ainda mais gelado chegando no decorrer do episódio já muito frio | MetSul

Que será uma onda de frio intensa não se tem dúvida, mas faltando ainda quatro dias para a sua chegada existem pontos em aberto como sua intensidade definitiva, o alcance do ar gelado no território brasileiro, e a possibilidade de neve, sua extensão e eventual acumulação e quantidade. Estes cenários devem ficar mais claros ao longo deste fim de semana e na segunda-feira com a maior proximidade do evento.

O ar polar deve ingressar no Brasil entre a terça e a quarta-feira, trazendo queda enorme da temperatura que será extremamente baixa na segunda metade da próxima senana. Modelos têm indicado que a temperatura no nível de pressão de 850 hPa, equivalente a 1.500 metros de altitude, que é parâmetro usado em Meteorologia para identificar o quão quente ou fria é uma massa de ar, ficaria entre -5ºC e -6ºC no Sul do Brasil.

Para se ter ideia do que isso representa, somente ondas de muito frio intensas atingem valores tão baixos e que raramente são observados. As ondas de frio intensas de julho de 2000 e de julho de 2007, por exemplo, tiveram valores nestes patamares.

Chama, ademais, atenção que os modelos têm indicado valores muito baixos no nível de 850 hPa não apenas no momento inicial do ar frio, por um ou dois dias como via de regra ocorre, mas para o período da quarta-feira até sábado da semana que vem, ou seja, por vários dias seguidos.

Isso representaria um período extremamente frio com mínimas e máximas muito baixas mais prolongado que o habitual. Há dados, inclusive, sinalizando que o ar polar se reforçaria se reforçararia sexta.

Não bastasse, no que também é pouco incomum, a linha de 0ºC no nível de 850 hPa alcança São Paulo e o Sul do Mato Grosso do Sul, ou seja, o ar polar poderia alcançar latitudes do Centro do Brasil com intensidade rara.

Sequência de dias extramamente frios

A massa de ar polar projetada pelos modelos é de tamanha intensidade que serão muitos dias consecutivos com temperatura média diária (calculada pelas mínimas e máximas) excepcionalmente baixas. O período de quarta até o sábado da próxima semana deve ser o mais gelado com máximas bastante baixas no período da tarde.

A presença de nuvens, ademais, em alguns dias pode fazer com que algumas cidades de maior altitude tenham temperatura abaixo de zero o dia todo com máximas em terreno negativo. As mínimas pode ser igualmente atipicamente baixas com registros incomuns de até 10ºC negativos ou até mais frio em áreas de maior altitude do Sul do Brasil.

O modelo canadense é um que, por exemplo, está indicando mínima de -10ºC a -12ºC para o final da próxima semana nos pontos mais altos do Sul do Brasil, mas valores tão baixos quanto -3ºC ou -4ºC que indica para áreas de menor altitude como, por exemplo, próximos a Porto Alegre são improváveis.

Modelos indicam temperatura tão baixa quanto -10°C no Sul do Brasil na próxima semana | MetSul

Dias com temperatura em 850 hPa de -5ºC a -6ºC, por experiência, costumam ter vento moderado e com rajadas em alguns momentos. Assim, a sensação térmica neste evento de frio será muito relevante. Com vento e temperatura excepcionalmente baixa como se prevê, grande número de cidades do Centro-Sul do Brasil pode experimentar marcas baixíssimas de sensação térmica.

Nas áreas de maior altitude do Rio Grande do Sul e do Sul do Brasil valores de sensação térmica (utilizando-se a fórmula mais moderna do National Weather Service dos Estados Unidos) podem atingir marcas neste evento polar tão baixas quanto -10ºC a -20ºC. No alto do Morro da Igreja, em Santa Catarina, a 1.800 metros de altitude, a sensação térmica pode ficar entre -20ºC e -25ºC. São valores perigosos que podem causar até congelamento da pele e do tecido inferior (frostbite) de partes expostas do corpo como dedos.

Leia também: Corredor polar aberto para enormes ondas de frio no Hemisfério Sul

Urge-se às autoridades locais que reforcem com urgência as medidas de assistência à população socialmente vulnerável, especialmente diante do crescimento da população sem teto vivendo em situação de rua, uma vez que o frio terá intensidade para causar hipotermia e morte em pessoas desabrigadas.

Geada

Vento e nuvens, em princípio, devem impedir uma sequência de dias de geada ampla e generalizada no Centro-Sul do Brasil. As projeções de geada em maior número de locais são mais para o final do período de pico da onda de frio, logo no final da próxima semana. A geada atingiria partes do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, além dos três estados do Sul. É o que, por exemplo, mostra o modelo canadense para o fim da semana que vem.

Projeção de geada para o final da próxima semana | MetSul

Como se trata de um evento que vai se estender para daqui a 7 ou 8 dias, as projeções de geada hoje são preliminares e o cenário não é definitivo. Na seção de modelos do site, o assinante tem acesso a diferentes modelos com prognóstico de geada atualizados até quatro vezes por dia.

Uma preocupação da MetSul neste evento, considerando a perspectiva de vento e de frio abaixo de zero em muitos locais, é o alto risco de que se produza a chamada geada negra. Não é a forma tradicional de geada que branqueia paisagens e cobre de gelo automóveis e telhados. Trata-se de um fenômeno em que se dá a morte de vegetais por congelamento.

Neve

A probabilidade de nevar nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil com base nos dados de hoje é muitíssimo alta. A cinco dias do começo do evento de frio, projeções de neve estão, contudo, sujeitas a enormes mudanças e o que se esboça nesta sexta-feira está longe de ser definitivo.

Hoje, o cenário que se apresenta, a partir da modelagem numérica e análise de eventos passados com características semelhantes, sinaliza a chance de precipitação invernal (neve em flocos, chuva congelada e/ou graupel) por demais alta nos pontos mais elevados do Sul do Brasil (cotas de altitude acima de 800 metros), chance média a alta em locais de média altitude (400 metros a 700 metros) e pequena a média em pontos de menor altitude (nível do mar a 400 metros) de diversas regiões gaúchas e do Sul do Brasil.

Qualquer cogitação de prever eventual acumulação por ora não teria fundamento diante de um cenário ainda muito aberto e sujeito a mudanças grandes nos próximos dias.

Os mapas a seguir, disponíveis na seção de modelos com diversas atualizações diárias, mostram a tendência de neve neste evento de frio polar pelos modelos norte-americano GFS (o que indica a neve mais abrangente), canadense (concentra a neve mais em Santa Catarina e no Paraná) e o alemão Icon (o que menos neve indica para o evento).

Neve para os próximos 10 dias no RS

Neve para os próximos 10 dias em SC e no RS

Neve para o dia 30 de julho

O que chama atenção é o indicativo de alguns destes modelos sobre a possibilidade de vir a ocorrer neve por três ou quatro dias seguidos no Sul do Brasil. Seria mais um acontecimento raro porque recentemente na onda de frio de junho tivemos o primeiro evento de neve por três dias seguidos no Sul do país desde a grande onda de frio de julho de 2000. Um novo episódio de três seguidos, um mês após o último que foi o primeiro em duas décadas, seria um fato excepcional do ponto de vista climatológico.

Igualmente chama muito a atenção em diversas projeções, notadamente do modelo GFS, é o indicativo de neve para muitos pontos da província de Buenos Aires com ocorrência do fenômeno em muitas cidades do Centro-Sul da província assim como para diferentes departamentos do Uruguai.

Hemisfério Sul vive trem de ondas polares com recordes de décadas

Brasil, África do Sul e Austrália registram sucessivas ondas de ar antártico que derrubam recordes de décadas e vem ainda mais frio

Sucessivas ondas polares de enorme intensidade, como a que recém afetou o Brasil na semana e a MetSul alerta voltará a alcançar o território brasileiro com ainda mais força na próxima semana, atingem países do Hemisfério Sul neste final de mês de julho, quebrando recordes históricos de frio de décadas. Um verdadeiro ?trem? de ondas longas na atmosfera está levando potentes massas de ar muito gelado para as latitudes médias da América do Sul, África e Oceania.


Na África do Sul, por exemplo, nada menos que 19 estações meteorológicas oficiais do país do South Africa Weather Service (SAWS) quebraram hoje recordes de frio para julho, de menor mínima e menor máxima. Em algumas estações, as mínimas de hoje foram as mais baixas para julho em mais de meio século com marcas não vistas em seis décadas.

A estação do Aeroporto Internacional Oliver Tambo, de Johanesburgo, registrou durante o começo desta sexta-feira a menor temperatura mínima para o mês de julho de toda a sua série histórica de 61 anos. Os termômetros no aeroporto indicaram 7,0ºC abaixo de zero. Com isso, caiu recorde de mínima de julho da estação que era 6,3ºC negativos em 19 de julho de 1995.

Recordes de frio para julho registrados na África do Sul | South Africa Weather Service

Outra estação com série histórica longa da África do Sul que teve recorde de mínima para julho no dia de hoje foi a de Warmbad Towomba, que igualmente possui dados por 61 anos. A mínima foi de 5,6ºC negativos, superando o recorde de 5,5ºC negativos do dia 6 de julho de 1964. A estação de Kimberley, outra com 61 anos de observações, registrou a menor mínima de sua série com 9,9ºC abaixo de zero, batendo o recorde prévio de julho de 8,1ºC negativos em 21 de julho de 2000.

Frio recorde na África do Sul e ondas de frio no Brasil

O mesmo padrão de ondas longas de alta pressão atmosférica que favorece ondas de frio extremo no Brasil pode produzir dias depois frio muito intenso na África do Sul, uma vez que estas ondas se movem de Oeste para Leste. Os recordes de frio de hoje na Austrália ocorrem dias depois de algumas cidades do estado de São Paulo terem registrado as suas menores mínima para qualquer época do ano em 10 a 15 anos.

Uma onda longa (com ar polar) hoje no Pacífico, outra no meio do Atlântico Sul, uma terceira no Sul da África e uma quarta na Austrália com a ondulação das correntes de jato que atuam com muito maior intensidade no Hemisfério Sul que no Norte nesta época do ano| Climate Reanalyzer

Chama atenção na estatística histórica de quebras de recordes para julho ocorridas hoje cedo e divulgada pelo Serviço de Meteorologia da África do Sul como os anos prévios de recordes de frio derrubados hoje tiveram eventos de frio muito intenso no Sul do Brasil, casos de 1964, 1995 e 2000.

Os recordes derrubados hoje para julho e que anteriormente era do ano passado na África do Sul tinham ocorrido em algumas estações do país entre 12 e 18 de julho de 2000. Este período quase coincide com uma potente onda de frio no Sul do Brasil que trouxe marcas abaixo de 5ºC em Porto Alegre nos dias 3, 4, 10, 14 e 15 de julho de 2020.

No caso da onda de frio de 2000, o recorde ? hoje derrubado ? na estação sul-africana de Kimberley se deu em 21 de julho de 2000. O ar polar que provocou a grande onda de frio de julho de 2000 no Brasil ingressou no Sul do Brasil entre o final da primeira e o início da segunda semana de julho, logo cerca de dez dias antes da data do agora ex-recorde de Kimberley.

A estação de Warmbad Towoomba teve hoje o recorde quebrado para julho que era de 6 de julho de 1964. Naquele mês, em Porto Alegre, foram cinco dias com temperatura abaixo de 5ºC: 10, 19, 20, 21 e 28. Vários dias no mês tiveram marcas entre 5ºC e 6ºC na capital gaúcha.

Frio na Austrália

Uma onda polar também atinge o Sul da Austrália enquanto o Norte do país experimenta recordes de calor. Os aeroportos de Adelaide e Parafield tiveram recordes de menor temperatura máxima que não superaram 10ºC. As estações, entretanto, não operavam na grande onda de frio de 1951. Adelaide não tinha tanto frio desde 1986.

A estação de Toowoomba, em Queensland, teve a sua menor mínima em 17 anos para julho e a menor marca para qualquer mês desde 2009. A estação próxima na cidade de Oakley registrou a mínima do estado australiano com -4,4ºC.

O BoM (Bureau de Meteorologia da Austrália) emitiu alertas de tempestade de neve com vento e quase zero visibilidade para o Sudeste da Austrália, incluindo partes de Victoria e New South Wales, neste fim de semana com a passagem de duas frentes frias pela região. Deve nevar até em áreas de baixa altitude de Victoria. Os ventos podem ficar perto de 100 km/h neste sábado com avisos de mar grosso para a costa da Tasmânia. E vem ainda muito frio na virada do mês.

Corredor polar aberto para enormes ondas de frio no Hemisfério Sul

Temperatura muito abaixo da média na maior parte da Antártida, enfraquecimento do cinturão de vento ao redor do continente antártico e mais gelo marinho que o habitual criam cenário ideal para poderosas e até extremas ondas de frio no Hemisfério Sul e que podem alcançar o Brasil | NOAA

O padrão atmosférico é favorável a novas incursões de ar polar de forte intensidade agora no final do mês de julho e também ainda em agosto e setembro, possivelmente com risco de frio intenso tardio mesmo no decorrer da primavera.

A possibilidade de novas massas de ar muito frio, como a do final do mês de junho e desta semana, acompanha o quadro de neutralidade no Pacífico que pode migrar novamente para La Niña ao longo deste segundo semestre e ainda pelo comportamento da temperatura e do vento na região da Antártida.

A temperatura desde o outono tem estado abaixo da média no continente antártico. Maior parte da Antártida vem registrando temperatura muito abaixo dos padrões históricos, o que, por exemplo, fez com que a cobertura de gelo marinho no Hemisfério Sul durante o mês de junho ficasse logo acima da média histórica 1991-2020.

Grande parte da Antártida está hoje com temperatura abaixo da média | Karsten Haustein

A cobertura fim de 14 milhões de quilômetros quadrados ou 1% acima da média dos últimos trinta anos. Esse pequeno desvio positivo ocorreu após cinco anos seguidos de menos gelo marinho do que a média em junho, especialmente entre 2017 e 2019.

Cobertura de gelo marinho estava acima da média dos últimos 30 anos na Antártida | Copernicus

Na metade deste mês, a Oscilação Antártica entrou em fase negativa, o que favoreceu incursões de ar muito frio em latitudes médias como do Brasil. A projeção é que a oscilação tenha uma nova queda agora no final do mês de julho, o que manterá o cenário muito propício para ondas de frio de maior intensidade em países do Hemisfério Sul mais meridionais.

Onda de frio na África

Na mesma semana em que uma onda de frio atinge o Centro-Sul do Brasil e que trouxe temperatura de 8,2ºC abaixo de zero em Santa Catarina e marcas negativas em seis estados brasileiros, com graves perdas para diversas culturas da laranja ao milho e café, uma potente onda de frio alcança o Sul do continente africano.



A temperatura nesta quinta-feira chegou a 9,7ºC abaixo de zero na estação de Werda, em Botswana. A menor marca no país desde 1953, quando os termômetros indicaram 10,6ºC negativos. Muitas estações na África do Sul anotaram hoje marcas negativas. A de Twee Riviere indicou 9,5ºC abaixo de zero. O Aeroporto Internacional de Johanesburgo teve 0,2ºC negativo.

Sinal de aviso Será a noite mais fria do ano em alguns lugares no interior da África do Sul hoje à noite até amanhã de manhã de sexta-feira (23 de julho de 2021). Pequenos criadores de gado, por favor, estejam avisados.#ColdFront

O serviço meteorológico da África do Sul alertou para frio ainda mais intenso no começo desta sexta-feira com marcas negativas e geada em muitas áreas do país com possibilidade de danos para produtores rurais. Em razão do frio e de limitações na geração de energia elétrica, a empresa Eskom anunciou que o sistema elétrico nacional está sob estresse.

Achei que deveria compartilhar esse fenômeno bastante incomum com você e os espectadores do MorningLive. Neve inacreditável em Kimberley.

Neve em Hogsback Eastern Cape. Excelente com a família.

A neve começou a cair em partes do Cabo Setentrional – incluindo Kimberley em meio a uma forte frente fria. O Serviço Meteorológico da África do Sul emitiu um alerta de neve e frio sobre o Cabo Ocidental, Cabo Norte e Gauteng.#sabcnews

Está MUITO frio em Sutherland esta manhã. Alguns patins no gelo nas ruas capturados por Chantel.


O frio muito intenso chegou ao interior do país e chegou a provocar incomum queda de neve hoje cedo ao Norte de Cape, como na localidade de Kimberley, para o espanto dos moradores. Há um alerta nível 3 para perdas no gado em razão da neve nas áreas mais altas de Western Cape assim como em Namaka e o Sul de Free State.

Mais frio para o Brasil e pode ser extremo

Modelos numéricos consolidaram a tendência de uma nova e potente massa de ar polar alcançando o Centro e o Sul do Brasil na próxima semana com marcas muito abaixo de zero em algumas cidades e um grande número de municípios do Sul, Centro-Oeste e o Sudeste do país mais uma vez registrado marcas negativas.

O cenário que se esboça é de mais um evento de geada de grandes proporções que, a partir dos dados de hoje, pode ser ainda pior que o desta semana com enorme risco de perdas adicionais no setor primário, incluindo milho, laranja, café e hortaliças.

A se confirmarem as tendência de hoje dos modelos e que serão detalhadamente analisadas nos próximos dias pela MetSul, a onda de frio deste final de julho tem potencial para facilmente superar em intensidade as ondas polares do final de junho e agora desta semanas, equiparando-se a algumas das mais fortes na memória recente.


Publicado em 24/07/2021 15h33

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