Arqueólogos encontram uma vasta rede de aldeias amazônicas dispostas em retângulos e círculos

A tecnologia Lidar revelou aldeias há muito abandonadas que parecem os raios de um sol.

(Imagem: © University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020; CC BY 4.0)


Bilhões de lasers disparados de um helicóptero sobrevoando a Floresta Amazônica brasileira detectaram uma vasta rede de aldeias circulares e retangulares há muito abandonadas que datam de 1300 a 1700, descobriu um novo estudo.

Todas as aldeias circulares tinham layouts notavelmente semelhantes, com montes alongados circundando uma praça central, como marcas em um relógio.

“Esses últimos montes alongados, quando vistos de cima, parecem os raios de sol, o que lhes dá o nome comum de ‘Sóis'”, palavra em português para “suns”, escreveram os pesquisadores no estudo.

A descoberta faz parte de um novo enfoque arqueológico na Amazônia pré-colombiana. Nos últimos 20 anos, os pesquisadores descobriram que a borda sul da floresta tropical era o lar de uma grande diversidade de culturas de esculpir o solo que projetaram a paisagem antes da chegada dos europeus. Na última década, os cientistas descobriram os vestígios das chamadas “aldeias montanhosas”, que têm a forma de círculos ou retângulos e estão ligados por redes rodoviárias.

Os arqueólogos, no entanto, ainda não haviam procurado por vilas montanhosas no estado brasileiro do Acre, então um grupo internacional de pesquisadores se uniu para pesquisar a área com lidar – ou detecção de luz e alcance. Com essa técnica, bilhões de lasers disparados de cima (neste caso, de um helicóptero) penetram no dossel da floresta tropical e mapeiam a paisagem abaixo.

A pesquisa lidar, combinada com dados de satélite, revelou um notável grupo de 25 vilarejos de montículos circulares e 11 aldeias de montículos retangulares, disseram os pesquisadores. Outras 15 aldeias montanhosas foram tão mal preservadas que não puderam ser categorizadas como circulares ou retangulares, acrescentou a equipe.

Uma visão da floresta amazônica do helicóptero durante o levantamento lidar. (Crédito da imagem: Universidade de Exeter)

Uma visão panorâmica de aldeias circulares na Amazônia. (Crédito da imagem: University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020; CC BY 4.0)

Duas estradas ligando vilas no que hoje é o Acre, Brasil. (Crédito da imagem: University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020; CC BY 4.0)

Exemplos de aldeias circulares que se parecem com relógios. Barra de escala = 50 m. (Crédito da imagem: University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020; CC BY 4.0)

Estrada principal (em vermelho) que liga as aldeias Caboquim e Boa Esperança. Barra de escala = 100 m. (Crédito da imagem: University of Exeter; Iriarte, J, et al. 2020; CC BY 4.0)

As aldeias de montículos circulares tinham um diâmetro médio de 86 metros, enquanto as aldeias retangulares tendiam a ser menores, com um comprimento médio de 45 m. Uma análise mais aprofundada das aldeias “sol” revelou que eles tinham estradas cuidadosamente planejadas; cada aldeia de montículo circular tinha duas “estradas principais” largas e profundas (até 20 pés, ou 6 m de diâmetro) com margens altas e “estradas secundárias” menores que levavam a riachos próximos.

A maioria das aldeias ficava perto umas das outras – apenas cerca de 4,4 km de distância, descobriram os pesquisadores. As estradas principais frequentemente conectavam uma aldeia a outra, criando uma vasta rede comunitária na floresta tropical, disseram os pesquisadores.

A maneira distinta e consistente como os indígenas organizaram essas aldeias sugere que eles tinham modelos sociais específicos para a forma como organizavam suas comunidades, disseram os pesquisadores. É até possível que essa configuração tenha o objetivo de representar o cosmos, eles notaram.

O co-pesquisador Mark Robinson monta o sensor lidar no helicóptero. (Crédito da imagem: Universidade de Exeter)

Mark Robinson integra o sensor lidar com o helicóptero. (Crédito da imagem: Universidade de Exeter)

O intrincado sistema de estradas, entretanto, “dificilmente é uma surpresa para os arqueólogos amazônicos”, escreveram os pesquisadores no estudo. “Os primeiros relatos históricos atestam a onipresença das redes rodoviárias em toda a Amazônia. Eles são mencionados desde o relato do século 16 sobre [o missionário dominicano espanhol] Frei Gaspar de Carvajal, que observou estradas largas que iam das aldeias ribeirinhas ao interior.” Posteriormente, no século XVIII, o coronel Antonio Pires de Campos, “descreveu uma vasta população que habita a região, com aldeias conectadas por estradas retas e largas e constantemente limpas”, acrescentam os pesquisadores.

Pouco se sabe sobre a cultura praticada pelas pessoas nessas aldeias montanhosas. Mas pesquisas preliminares sugerem que as cerâmicas dessa cultura eram “mais rudes” do que as da cultura que as precedeu, conhecidas como geoglifos, que viveram naquela região por volta de 400 a.C. a AD 950.

O estudo foi publicado em abril no Journal of Computer Applications in Archaeology e acaba de ser apresentado no canal 4 “Jungle Mystery: Lost Kingdoms of the Amazon”, no Reino Unido, que também apresentou outras descobertas antigas da Amazônia, incluindo um extenso , ‘Tela’ de 13 quilômetros de extensão de arte rupestre na Colômbia que data da última era glacial.


Publicado em 09/12/2020 21h12

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