Pedaços de Vênus podem estar escondidos na lua

Representação artística de uma rocha de Vênus atingindo a lua.

(Imagem: © Sam Cabot)


O sistema solar é um lugar bagunçado.

A lua pode estar escondendo a chave científica do misterioso passado de nosso mundo vizinho, Vênus.

Os cientistas acham que a Terra e Vênus já foram terrivelmente semelhantes. Mas então, algo aconteceu em Vênus para transformá-lo no planeta movido pelo efeito estufa que é hoje. E agora, uma nova pesquisa propõe que a evidência de como precisamente essa mudança ocorreu pode estar escondida em cápsulas do tempo rochosas na lua, lançadas lá por colisões antigas.

“A lua oferece proteção para essas rochas antigas”, disse Samuel Cabot, um estudante graduado da Universidade de Yale e principal autor da nova pesquisa, em um comunicado. “Qualquer coisa de Vênus que pousou na Terra está provavelmente enterrada muito fundo, devido à atividade geológica. Essas rochas seriam muito mais bem preservadas na lua.”



Na nova pesquisa, Cabot e seu co-autor analisam como os impactos em uma Vênus primitiva poderiam ter enviado cápsulas do tempo geológicas à lua da Terra. Esse processo diminuiu consideravelmente, mas bilhões de anos atrás, impactos mais poderosos eram mais comuns do que hoje e, por causa dos padrões de tráfego inerentes ao sistema solar interno, asteróides que atingem Vênus estariam se movendo mais rápido do que aqueles que atingiram a Terra.

E, ao mesmo tempo, os cientistas acham que Vênus pode ter se parecido muito mais com a Terra hoje, com uma atmosfera mais fina do que seu atual cobertor de dióxido de carbono – e talvez até oceanos aquosos na superfície do planeta.

Essas circunstâncias significam que, quando um hipotético grande impactor colidiu com o planeta, detritos poderiam ter escapado da atmosfera, de acordo com os pesquisadores, o que agora seria impossível. E, se assim fosse, os destroços carregariam a impressão digital geológica de qualquer oceano que Vênus exibisse na época.

Depois, há a questão de levar essas pedras à lua. De acordo com os modelos dos cientistas da forma como as órbitas se alinham, o material venusiano deve atingir a vizinhança Terra-lua com bastante frequência. Os cálculos dos pesquisadores sugerem que de cada 10.000 pedaços de rocha lançados de Vênus por impactos, cerca de sete deveriam ter pousado na lua.

E na lua, sem placas tectônicas ou erosão eólica, tudo que atingiu a superfície ainda está lá em algum lugar, embora talvez enterrado ou mutilado por impactos posteriores. Teoricamente, escrevem os pesquisadores, futuras missões lunares – ou mesmo simplesmente análises adicionais das amostras lunares da Apollo – poderiam identificar o material venusiano que foi transplantado.

Esse material contaria a história do planeta de uma forma diferente de todas as evidências que os cientistas estudaram até hoje.

“Um fragmento antigo de Vênus conteria uma riqueza de informações”, disse Gregory Laughlin, astrônomo da Universidade de Yale e co-autor da nova pesquisa, no mesmo comunicado. “A história de Vênus está intimamente ligada a tópicos importantes na ciência planetária, incluindo o influxo passado de asteróides e cometas, histórias atmosféricas dos planetas internos e a abundância de água líquida.”

A pesquisa está descrita em artigo aceito para publicação pelo Planetary Science Journal e disponível para leitura no servidor de pré-impressão arXiv.org.


Publicado em 09/10/2020 14h08

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